quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

ei saudade

ei saudade!
é tão complicado entender,
fácil não ter quando se tem por perto
aquilo que queremos tanto,
mas não sabemos se temos ao certo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

cartinhas de adolescente I

um verso assim,
um verso em si,
um verso em ti
um verso em mim,
te quero aqui,
ali, acolá,
e a poesia em meu amor há de passar,
é sempre um fim,
posso viver,
dizendo enfim
que amo você,

mas se soubesse o que era amor
não me perdia em cartinhas.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

certeza

minha infinita sabedoria me põe a prova
cada vez que alguém me pergunta algo,
sinto-me fraco, perco o foco,
mas estou perdoado,
escolho ser atrasado,
prefiro não ser questionado
ao invés de me complicar.

a mais bonita das vidas é a que levo,
não nego que prezo por uma boa conversa,
mas só converso mesmo com meus versos,
e eles me contam tudo que preciso saber,
me dão coragem,
tenho medo de mim mesmo.

mas se mesmo algum anseio possa apresentar,
se alguma dúvida em mim manifesta,
toda vez que me indagam algo a revelar,
eu os respondo "você mesmo é que não presta".


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

gentileza


gentileza gera gentileza,
amor,
mas o que fazer quando não há nada em volta,
e tudo o que queremos de verdade é simplesmente ter de volta
aqueles que de nós foram roubados?
aqueles que um dia foram amados,
que nos objetivaram imperativando nossas ações,
apostaram em nossas inexatidões,
relutantes, perdoaram nossas falhas.


não.


meus amigos,
gentileza não gera gentileza,
sujeira do mundo,
crime,
maldade,
infortúnios.


pessimismo?


o velho profeta que nos ensinou,
a bondade dos homens vai prevalecer,
mesmo sem saber o que se passa,
devemos confiar na nossa massa,
mesmo que essas usem maças,
bastões, porretes, armas.


os orgãos corruptos e corruptivos,
corruptíveis mexendo em fusíveis,
correndo com tesouras na mão, enlouquecidos,
jogando granadas, disparando, batendo em retirada
em meio aos gases tóxicos.


é claro que há esperança,
quem tem ela e vai atrás alcança,
abraça a todos,
beija,
festeja.


mas quantos outros velhinhos de barba iremos perder,
sendo profetas ou não,
tendo dinheiro ou não,
em meio as fatalidades,
para descobrirmos quem somos?


e porque em diversos casos a gentileza leva bala,
e essas não são festim.


entre palhaços aterrorizantes,
elefantes,
girafas e mulheres barbadas,
temos menos um homem são.


pense.
é assim com todo mundo.

acordei querendo uma vida,
a minha tão gasta, tão esquecida.

era uma vida em que tudo era branco,
a junção de tudo,
sabores e cores.

acordei vivendo em um sonho,
era diferente, em minha própria vida
era eu estranho.

acordei querendo uma vida,
em minhas falácias terei que morrer?

explica.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

a menina que não tirava férias


era especial.


trabalhava e trabalhava e trabalhava.
queria viver e vivia como queria,
vez ou outra até lia, fazia, era outra,
ela mesma, 
mas de fato se cansava de ser tanto,
cansada de viver tanto uma vida,
duas,
três,
que não cabiam na idade da terra.


seus dias, meses, anos,
não cabiam no calendário.
suas letras, palavras, frases,
não cabiam no abecedário.
seu amor não cabia dentro do coração.


e que coração tinha essa menina!


dividia a vida imobiliária com sua mãe,
problemas, tinha, como todos tem,
mas se abster virou uma opção,
com o mundo nas mãos nada abalava a protagonista,
sim,
protagonista de filmes dos quais ela não lembra o nome,
nem daqueles que com ela contracenaram,
de vez em quando,
estudando,
se pegava cantarolando,
canções que jamais lembraria quem compôs.


não comia feijão com arroz,
mas também não deixava mais nada pra depois.


queria ser grande.


não antes da hora,
que quem faz por onde,
vê o seu crescer,
separa sem demora,
e deixa os outros brigarem por migalhas.


quem nasceu pra brilhar,
não consegue perder nada.


às vezes só se perder de vista
e não ver quem está em volta,
batendo na porta,
vou querendo entrar.
me pediram rima


pediram rima,
eu lhes falo logo,
a rima simples,
rima fria,
mas minha poesia está acima,
declaro,
claro!
como não haveria de ser,
averiguando,
apresentando um gerúndio,
sendo recitada em latifúndios,
ocupações,
cantadas em canções e mortes,
velórios, falta de sorte,
ou encontrando um amor maior,
um substantivo ou um verbo só,
um adjetivo e as classes tomam conta.


pediram rima,
eu lhes dei um monte,
montes de bostas,
montes,
poesia sem fontes,
sem destinação,
destinatário, paixão,
vivo sem identidade.


mas a minha poesia é autêntica,
não gosto e não mexo na semântica,
na interpretântica e a na leiturântica.
de inventar palavras já cansei,
e já nem sei continuar,
mas se querem rima, olhem pra cima,
é do céu que elas vão brotar.

sábado, 10 de dezembro de 2011

me cansei


me cansei dos olhares fáceis de interpretar,
suas falácias,
seus pudores.


pra mim não era menos que um jogo.
algo de passar e observar.
na verdade tantas coisas passam pelas nossas cabeças,
que nós não vemos, 
nem temos a capacidade de enxergar.


tentamos ver, mas só conseguimos não alcançar.


uma palavra, um sonho,
tudo é nada mais que eu verso.


perdido no nada, dentro de uma garrafa indo além-mar,
lá pro japão.


um sentimento não se compra.
ele é apto a ser.
simplesmente com amor,
se você pode querer, pode fazer.


tudo isso e mais um pouco é o que todos nós sempre quisemos,
mas querer, meus amigos, é difícil!
e a decisão que se toma é quase sempre errada.


de vez em quando me pego pensando sobre naves espaciais, unicórnios e outras fantasias de adolescente.
mas eu tô vivo.


eu penso em levantar da cama e não ter problemas.
penso se o dinheiro vai dar no final do mês, pra comprar tudo que preciso.
me alimentar, me vestir, me calçar.
libertar-me de idiossincrasias, mediocridades, 
minhas únicas conquistas.


um ser incompleto: é isso que a vida nos trás.


nada além de uma televisão chiada, fantasmas, desejos
não sou eu que falo, é o universo inteiro,
pra quem nós prestamos contas,
seja em um templo ou em um terreiro.


nos apegamos muito ao que não vemos,
mas por outro lado, também vemos muito as coisas pelas quais não temos apego algum.
o que fazer?


é um dilema moral: sonhar ou se desfazer?

domingo, 4 de dezembro de 2011

noite entre amigos e mulheres

um sorriso mal dado,
um beijo, uns amassos,
tinhamos uma vida inteira
e não aproveitamos nada.

nos entreolhamos aquela noite e rimos,
fizemos valer a pena,
sujamos lençóis,
cantamos e ultrapassamos limites,
de nós mesmos,de vidas passadas,
tão entregues e engraçadas,
que nem mesmo pensávamos nisso.

há quem diga que podemos tudo,
mas se for tudo o que queremos,
que vamos querer?

se com um infinitivo termino um poema,
qualquer outra merda posso escrever.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

centro de tudo


nessas andanças pelo centro da cidade,
encontrei um rapaz bêbado.
não sei se bêbado de desejo ou de cerveja,
sei que estava sujo e maltrapilho,
rasgado e malvado,
malcheiroso e gritando sobre socialismo.
o que me deixou mais preocupado eram suas intenções.
como saber?
jamais saberia,
nada sobre ele,
sua vida,
suas posições sobre o tempo,
conhecer seus amigos.
que amigos,
podem pensar vocês,
que o deixariam daquele jeito,
dormindo na Tiradentes,
com garrafas e baratas em volta?
esse era o retrato do rio de janeiro.


se pensarmos bem, quem somos nessa cena?


continuei olhando para ele,
preocupado com minha integridade,
meus princípios,
eu um verdadeiro intelectual,
ele um lixo.


uma brisa estranha me alcançava o pescoço,
e ele me deu um beijo,
não vou dizer onde,
mas me deu um beijo,
queria avançar em mim,
viver minha vida, mesmo que por pouco tempo ser eu.
quis em um beijo me descobrir,
me amar e me desesperar.


era só um bêbado,
mas dei-lhe um empurrão que o jogou longe,
longe de minhas roupas caras,
longe de minhas indagações,
longe de minha sexualidade.
jogo um dinheiro em cima dele,
como se fosse um pobre querendo um pão,
com a dignidade no chão e o chapéu na mão.
judiei dele,
bati nele,
sangrando ele cobria seu rosto,
espelho de tantos,
tantos medos,
de uns e outros que eram também meus.


aquela existência frágil era um retrato,
o ambiente sua moldura,
uma obra de arte.


quando eu ia virando as costas,
deixando para trás um nome e uns sonhos por realizar,
livros por ler
mulheres para amar,
eu percebi uma coisa de relance,
que se eu tivesse dormindo acharia ser um sonho.


quem não era nada era eu.
quem não tinha nada,
quem não sabia de nada,
quem era cheio de si,
mas por dentro, 
era o vazio dos outros,
morto.
louco.
quem sabe até esperançoso.
de que um dia a vida de alguém ia mudar.


mas eu não podia me calar,
nunca me calaria.
mas na próxima vida,
dessa não levo nenhuma herança,
e nem das diversas vidas que vi passar diante de mim,
e me deixarem pra trás.

sábado, 12 de novembro de 2011

impenetrável


sou intragável,
intransponível,
insubordinado,
fraco.
não ligue para minhas significações,
morremos de pé como as árvores
e não merecemos perdões,
nem de nossas mães,
ventre livre, cheio de esperança,
vida mansa jamais tive,
abrigos invadi,
corações parti,
ainda mais o meu,
que um dia foi teu, mas já nem me lembro,
tento de tudo,
mas nada sucedo,
o sucesso é relativo
mas tenho medo de não ser feliz.


uma atriz de meia idade viciada em pó,
um porteiro de boate se transforma em Josi,
uma drag queen na Barbarela, Duvivier ou Prado Júnior,
quantos infortúnios fazem uma vida nova?
de quantos amores precisamos 
para termos certeza de que não existe nada,
nada, eu digo,
que nos faça divagar,
parar de olhar próprio umbigo,
e chorar sem parar num paraíso infernal 
e particular?


um poema velho num livro empoeirado,
um drama pesado de virar os olhos,
penetrando o impenetrável, como?
comendo com os olhos a morena,
a loira, sei lá, vou vivendo,
sem ereções, nem pretensões,
só reunindo vidas na minha,
atrelando cheiros,
mundos e fundos,
pensamentos miúdos
fazem minha identidade.


pasmem,
jamais serão como sou.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

pequenininha


como era pequenina a minha poesia,
tinha só um olho, mas ele não via,
que quem escrevia,
ia e desabava,
com a pobre da poesia,
por mais que escrevesse
já não conseguia nem sorrir.


como era pequenina a minha poesia,
tinha uma mãozinha, mas que não tocava,
e quando estava, meio não estava,
e quando eu chorava ela também chorava,
e quando eu apagava ela só gritava,
e quando eu gritava ela se assustava.


a poesia pequenininha,
metalinguística,
mística,
era como parte de mim.


não sei se eu a escrevia,
ou se ela se escrevia assim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

vamos à luta

lutem, queridos,
se juntem,
marchem,
se encaixem em vidas de outros,
problemas dos outros,
massas.
vamos aqui e agora,
com voz, sem demora,
invadam, quebrem,
briguem, gritem!
fortemente armados...

arrasados,
com cabelos e orelhas puxados
por papais e mamães,
com a mesada cortada
sem dó,
com os braços quebrados
e com choros sem lágrimas,
vidas opostas ou passadas,
alguns já viram esse filme,
e repetem as falas conforme essas passam,
e matam,
matam,
se matam por dentro e por fora,
perdendo a identidade no sistema,
sistematizando as lutas plenas,
um peronismo moderno e ainda sem rosto.

mas esperem, amigos queridos,
companheiros de batalha,
cassetetes, maças, gás lacrimogêneo!
que tal olharmos isso com outros olhos,
que tal mexermos nos brios e ódios,
não deveríamos nos querer bem?

nos que do protesto somos mesmo amantes,
deveríamos ser mesmo, estudantes,
antes de qualquer coisa.
não percam a vida e a oportunidade,
de nos letrar, pensar e ser pensado,
ser lido, vivo e operante,
só assim teremos mesmo voz.

o resto é só ser privado de sentidos,
e acima de tudo,
renunciar a juventude.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

adivinha

adivinha quem é...
(tapando seus olhos com as mãos)

sim, sou eu!
voltei,
não bati na porta,
entrei!
sou eu de novo,
encantando o povo,
sofrendo de cansaço e câncer,
os pés descalços,
desgastados,
em transe,
sem ter pra onde ir, com fome,
vivendo em cima de vocês,
usando outros nomes,
deixando de lado o meu bem querer.

adivinha quem é...
é a vida que chama,
é o amor e a chama,
vem e deita na cama
que era nossa e clama meu nome.

vem e beija meus lábios
me faz acreditar que
pelo menos o calor do meu sangue,
que corre nos teus filhos
que também são meus meninos
você ainda não esqueceu.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

frio

eu no estilo cebola,
várias camadas de roupa,
me deparo com o frio carioca,
temperaturas abaixo de zero,
nem os cobertores de concreto nos salvam,
e ainda assim encontro meu amor.

de capuz e capacete,
capa, moletom, e agora?
aquecido nunca estou quando não estás comigo.
me abraçando forte,
me dando apoio e sorte,
quando todos os outros feixes de luz inexistem.

não preciso de nada disso,
sendo você o meu sol,
me basta sair lá fora,
nesse frio fluminense,
botafogo, flamengo e vasco.


sábado, 29 de outubro de 2011

santificados sejam os dias de tédio e aborrecimentos,
mas esses se quedam num passado presente.
a vida não é mais a mesma de antes,
porque estás comigo,
longa data,
e assim posso dormir em paz.

domingo, 23 de outubro de 2011

recortes

um belo dia resolvi mudar,
deixar pra trás coisas pequenas,
mesquinharias, marias,
nomes próprios.
me peguei olhando o espelho,
com medo da velhice,
fugindo dela,
de mim mesmo,
como se tivesse algo em que segurar.
como se em mim fosse brotar algo que valha a pena,
que não eu mesmo.
me sinto fora de mim,
como um recorte de jornal,
uma notícia antiga,
uma notória viagem sem volta.

um belo dia resolvi mudar.
resolvi criar,
deixar de sonhar e realizar,
deixar-me amar e talvez também ser,
apesar de nunca dormido tanto,
quando acordei eu era o mesmo,
só que outro.

eu agora penso em ser alguém desfigurado,
aceitando tudo do meu eu sem máscara.

sem horrorizar ninguém.

sábado, 22 de outubro de 2011

disciplina

tanto pra fazer,
sufoco!
nada pra fazer,
alívio!
entre um e outro,
linhas se desenham,
que não importa como,
a gente insiste em cruzar.

não importa o que aconteça,
tudo sempre vai bem,
quando ninguém sabe o dia de amanhã,
mas quando todos sabem dos apuros,
e tem a chave mestra para sair dessa situação,
as portas estão trancadas,
não pelo corpo,
pela mente.
a mente que mente,
nem sente o que tem,
mesmo que invente alguma dor também,
quem se diz capaz de realizar?

tente.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

o que o escuro carrega

é tarde da noite,
sonhos, rostos, cores,
tudo some.
nos escondemos por entre os escombros,
com os escrúpulos assombrados por medos passados,
estamos passados, velhos por dentro,
dramáticos,
sádicos.
não sabemos ao certo o que acontece à noite,
quando cai, já caímos,
vimos passar o dia,
cansamo-nos,
dia inteiro,
noite inteira essa melancolia.
dúvida.
é na noite que se revelam os livros abertos,
as vidas retrógradas e opiniões diversas,
é a noite que andamos às pressas,
sem saber o que espreita,
sem saber endireitar o mundo,
segurando o que temos de valor.
e o amor?
esse só não existe de noite, diriam os amantes,
e os bem casados, a rotina veem a porta bater,
filhos, ter, sem querer
querer sem ter,
não ser mais sem viver,
por eles, por todos eles.
a luz elétrica se apaga
e nos desesperamos.
lá se foi uma luz de preocupações,
sem televisão, sem eletrodomésticos,
de repente sem vida.
a noite é uma coisa contínua,
incentiva e incita a morte,
mas nem sempre essa se faz cumprir,
temos que parar de agir atrapalhados,
no escuro, tateando tudo,
quebrando as coisas,
devemos ter consciência.

então pára e pensa.
que já é tarde da noite,
sonhos, rostos, cores,
tudo some.

e nós?


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

o velho sábio e o moleque sabido

um velho sábio me ensinou
os mistérios da vida,
curas de feridas,
divinas comédias,
futuros e passados,
amargos e doces,
duráveis e breves,
pausadas e continuadas,
terrenos e céus azuis.

o velho também me disse
que tudo em mim valia a pena,
tudo em cada um era um pouco de mim.
eu mesmo é claro, não me entendia assim,
dormia e acordava como todo mundo,
comia melado e me sujava todo,
tinha podres e tristezas que só vendo!
mas ele disse que não importava,
que eu era amado por quem não sabia,
a vida eterna eu então contemplaria
e me veria acima de todos os outros.

eu perguntei ao sábio
sobre o meu futuro,
sendo tão especial, eterno,
quem seria o meu eu moderno,
e se o que faria era salvar a todos...

ele disse, seu destino é negro,
estás fadado ao esquecimento,
pois a tua vida não é mais só tua,
e o que sobra a noite me leva.

fiquei sem entender nada,
e resolvi só viver a vida,
que mesmo que já perdida,
sabia eu o significado.

coloco um ponto aqui,
uma vírgula ali,
e sei muito bem ser imortalizado.

atráves de minhas fragilidades,
conto as idades da terra,
e o velho sábio se torna cada vez mais velho,
e menos sábio.
e eu vou crescendo e envelhecendo,
finalmente entendendo meu papel na terra.

subjetivar as intelectualidades,
e intelectualizar os infinitivos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

bicho papão, uma, duas, três metáforas desarrumadas

num quarto escuro, uma luz entrava,
não sei se eu que dormia ou alguém chegava,
em meus devaneios e sonhos sem fim,
não é que uma luz ainda acende por mim!
e morto de sono, ainda acordado,
alguém abre a porta e eu assustado, me escondo.
atrás de um travesseiro, debaixo das cobertas,
até o tal ir embora, ou então me levar,
não posso nem cair em desespero.

é assim que eu levo a minha vida,
ora dormindo, ora acordado,
hora dessas espantando meus demônios
com barulho de televisão ligada.

quem foi criança, sabe o que digo,
e compartilha de minhas crenças.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

corte de cabelo

chego no cabeleireiro e me sento a esperar,
lendo o jornal, reclamando do tempo,
me preparando para encarar a tesoura.

passa um tempo, meia hora,
já estamos rindo e brincando naquela casa de vila,
nos fundos, pra ter o pão de amanhã,
dona Carmem nos dá um tratamento de beleza especial:
xampu, barba, cabelo e bigode,
conversa, cervejinha e linguicinha frita,
logo tudo vira um grande churrasco,
de cabelo cortado eu fico confiante,
e logo cheio de saias bem curtas em volta.

tudo é alegria,
e as vezes esquecemos de como é bom
dar valor a trivialidades miseráveis.
mentira

contei uma,
duas,
três,
quatro,
depois cinco,
depois seis.

uma virou verdade,
de tão ouvida que foi (como minha mãe dizia),
outra foi mandada por correio lá pra longe,
e afetou até muitas vidas, lá no Mato Grosso,
a terceira foi rapidinha no emprego, que antes era meu,
agora é de algum almofadinha, capacho do patrão,
a quarta foi por telefone e decretou o fim,
o fim da arrumação bagunçada que era minha relação.
a quinta contei de ruim que era,
não dar dinheiro aos pivetes,
não pagar estacionamento,
não dar dinheiro.
a última foi a mulher que amava,
dizendo que não.

quando a verdade era sim,
mas disso eu não sabia nada.
drama

algumas vezes deixamos nossa mente voar,
procurando artifícios, uma lembrança,
um desapego que seja, algo forte o bastante pra mandar pra longe a tristeza imensa,
da confusão das horas,
do tormento de velhos relacionamentos desgastados.

outras vezes, passivamente, esperamos,
por ilusões de outrora,
seguimentos de reta, tortos,
argumentos sólidos,
teses,
rezas,
mas de nada adianta.

temos que começar por nós mesmos
o processo de reconstrução.
ou não?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

protesto

ATENÇÃO, AMIGOS,
É UM ABSURDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A HUMANIDADE!
TEMOS QUE PROTEGER AS NOSSAS CRIANÇAS,
ASSEGURAR OS DIREITOS DE NOSSOS ANIMAIS,
A COMUNIDADE INDÍGENA UNIDA
E CONTRA O RACISMO E HOMOFOBIA!

comecem por acabar com a mediocridade,
tão presente em lares brasileiros,
olhem para seus umbigos, nos espelhos
e dentro de suas almas nos sonhos,
façam de conta que ninguém mais existe.
como todos vem fazendo desde o início dos tempos.

desligue o megafone,
desmonte as multidões,
desarme-se,
pregue a desunião,
deixe de lado causas sociais e políticas.

leia um livro.
seja um humano melhor,
e não esconda as respostas de quem está sentado ao seu lado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

não culpe a vida pelos desencontros.
somos nós que não nos mostramos prontos
aos designios do destino,
e percebemos que ao fechar e abrir dos olhos,
lá se foi mais um dia.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

susto

como um gato sorrateiro,
vem uma sombra feia,
tentando em vão tirar a vida alheia,
pois não dá conta do amor que a cerca.
preocupações viram festa,
rugas, viram gargalhadas...

dia desses lembramos de tudo
que um dia nos tirou o sono,
mas como posso sobre isso refletir
sem ao menos deixar uma lágrima?

simples.

lágrimas só sofrem quem é triste,
e neste poema, isso não existe.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

tudo que via era assim,
um espelho de mim, preso eu estava,
não sabia se o que via era tudo preto,
ou se era eu mesmo que não prestava.
na cidade grande as luzes se acendem,
e escondem a própria escuridão,
lá dentro, bem no fundo,
o conto de fadas é uma farsa
e novos vilões se vestem de carochinha.
e numa troca de olhares simpáticos,
um cotidiano nasceu,
virou aquilo que todos esperavam,
e prosperou.
e foi numa troca de olhares rancorosos,
que tudo foi desmoronar.

é sempre assim,
um olhar de ódio,
um de desesperança.
água de gente

entrei numa piscina humana
e me afoguei,
percebi que dentro dela,
não era água que tinha,
mas tinha a mim e a vocês,
tentava respirar, não conseguia,
me puxavam pra baixo,
tentava escalar as cabeças e braços,
e só ouvia vozes exaltadas,
exacerbadas de desespero.

a piscina era a consciência,
e nela hoje me vejo trancafiado,
refém por inteiro.

há quem se identifique,
haverá ainda mais dor na escuridão,
até que o sol se ponha
e nenhum coitado se exponha.
pegue papel e caneta e faça uma receita:
uma pitada de se,
umas colheres de talvez,
quem sabe um pouco disso e daquilo.
nessa mistura nasce um verso,
feio, sujo, velho,
mas vivo, querendo ganhar o mundo,
sortudo sou eu que junto,
e sofrendo mudo,
sofrendo tudo,
escrevo uns gritos da alma.
gente como a gente
precisa entender o que é o amor.
perguntei pra mim,
mas só quem sabe mesmo são meus pais,
de cujo amor sou fruto,
mas ainda incapaz.
dia desses me peguei pensando,
com o coração batendo a mil...
mil frivolidades, banalidades,
quebrando em pedaços minha calmaria.
só escrevo quando sou infeliz.
só escrevo assim, tarde da noite,
calado, no açoite
no raiar do dia,
queria eu viver alguém,
mas só sei não ser.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

estrela cadente

uma estrela me avisou que minha vida ia mudar,
sei lá, comecei a cantar, bater o pé no chão,
tremer de emoção,
mas não,
era um mudar diferente,
e o meu feliz e contente,
virou é preocupação.
a estrela sapeca, era em verdade cadente,
já no fim, inconsequente,
quis mexer com meus temores,
as promessas e os amores
que um dia hei de ter,
não são por causa de uma estrela,
brilho fraco,
quase morta,
mas que hoje já não sei não ver.

e quanta luz ela me traz, meu Pai!
tanto vida ela me dá,
que ela própria não notou
que a mudança ela que fez,
para mim e pra vocês,
só olhar pro céu e pronto.

quantas rimas eu mereço,
o meu brilho, desconheço,
mas a estrela me disse, caindo,
que eu caio com ela se não me aprumar.

a mudança da sua vida,
mundana vista do mundo,
você começa agora.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

a estrada

uma estrada longa e velha,
manchada com sangue, choros e velas,
estampada nas telas de qualquer pintor,
representa então, tal estrada o amor
de quem sonhou um dia passa lá por ela?
aliás de quem era esse sonho?
e na estrada corre um drama à toa,
uma comédia, vidas ruins e boas,
ritmos, rimas, loucos,
e de esperança não morrem jamais.
sabem da vida da gente,
felizes, contentes porque da estrada vivo ninguém sai.

o nome da estrada é solidão, dizem,
sem solução, cometemos deslizes,
sem as estrófes não somos felizes,
a vagar devagar pelo tempo,
sem acalmar os ânimos ao menos um momento,
sem jogar uma palavra ao vento,
dentro de um coração amargurado,
que de pirraça não foi visitado
por ninguém a não ser por ti mesmo,
se um dia pensares que o coração morre,
organizarei para ti um cortejo.

desde pequeno sonho com meu dia,
em que da estrada enfim saírei,
no horizonte já enxergo uma esquina,
uma vida inteira sabendo o que sei.

que o caminho se encerra talvez.
acústica

a sala inteira respirava fundo,
coisas novas, mundo novo, tudo.
eu gritava dentro de mim, mudo,
e entrava em pânico em silêncio.

quando alguém falava bem baixinho,
era estranho, sentimento intenso,
e a acústica do pensamento,
ecoava a minoria inteira.

me perdoe se começo tudo,
e no mundo em si já me revelo,
e nessas rimas ridículas, tolas,
entram em cena essas palavras belas.
mas não vou me dar tão por vencido,
se sumido me entrego todo,
e gritando me vejo, calado,
e pensando a acústica me leva.

só há um problema em pensar,
falar sem ter passado pelo filtro,
nessa sala mal iluminada...

(o barulho esconde minhas besteiras).
há um cansaço estranho em mim,
enfim posso ver o escuro,
tudo a frente, sempre em frente é tudo
que não posso presenciar.
onde posso estar?

há um humor estranho em mim,
sim! ainda tenho salvação,
amor pra dar,
não! não posso ainda desmistificar
o invulnerável em mim e evoluir,
terminarei por ruir como um todo.

há um fim estranho em mim,
a luz desaparece,
cresce o poder,
apagam-se as luzes,
apego-me as cruzes,
mudas de tanto falar de Deus.
e aos ateus, não vos resta nada,
reflexões apenas em hora errada,
apenas sombras dessa luta armada,
que um dia nos fez ter lembranças...

















de um tempo que hoje não existe,
passado já foi, mas dele esqueço montes,
de vidas minhas, outras degradantes,
e em meus olhos brilhos de um desejo antigo.
canção do idealismo

ainda que seja forte a jornada,
e meu espírito ferrenho aqueça,
eu luto claramente por beleza,
por um amor, natureza acabada.

de toda vida só carrego a mim,
no coração carrego mais de mim,
por mais que peça a você que venha,
carrego em mim as cores do Brasil.

levo a coragem da mudança intensa,
o que preciso, voltar a lutar,
pois nada vai mudar a minha crença
de que estou aonde devo estar.

não pego em armas, só meu coração,
de vida livre a liberdade sofre,
mantenho minhas armas em meu cofre,
à minha eterna luta contra o não.

basta minha estrela tornar-se imortal
lutando ou nunca sucumbindo ao mal.
carência de sentido

é bem subjetivo, meu amigo,
esse negócio doido de carência de sentido!
se eu tô vivo e respirando,
me lembrando, interessado,
querendo a história cientificar...

não me venha dando uma de esperto,
mexendo e trocando de lugar,
levando de um lado pro outro,
girando a minha matriz disciplinar!
juro que não volto,
volto a não jurar,
fico mudo, discursando
e deslumbro a alegria,
sorria, chore!
perceba que não estás em má companhia!
dizem que não escrevo de amor.

bom.

é que pouco sei sobre tal coisa,
e não gosto de mentiras.
que seria eu, ao contar a mais cruel de todas?
incerto

é incerto viver, ter,
é incerto um porque, querer saber,
é incerto você me pedindo perdão,
é incerto a incerteza de ser quem não sou,
e me vou, sabendo que aos poucos,
em cada pergunta me esqueço onde estou.
do lado de dentro

do lado de dentro me vejo incompleto,
estranho, invertido,
um sino toca na cabeça e eu mudo
o tom da conversa e da consciência,
a poesia tem prosa e verso,
esquece de me ver desmoronar.
se tivesse pro'nde ir, ia logo,
sem enrolar,
e fazia dessa poesia doida,
sem rima, sentido,
com certeza o meu lugar.
a missão (o mistério do poeta)

tenho um dever nessa vida,
tenho aqui uma missão.
trazer amor,
trazer calor,
enfim, viver por ti,
sem mim, nem eu,
só teu, serei.

quanto tempo fiquei aqui a pensar,
que um verso longo não vai aguentar,
se hoje tenho isso
sem vida, ser vivo,
olhar teus olhos, omisso,
beleza em si, me entristeço,
e com saudade olho para trás...
atrás de mim tem um milhão,
milhões de sonhos, milhões de amores,
calores.

e eu com frio, sozinho e de porre.
o escrever do eu escravo

escrevo um poema,
enredos para cinema,
e talvez depois me falte vida pra continuar.

escrevo pois quero minha vida mudar,
escrever me dá
e ainda quer receber,
então minha alma depende do ser...

(se valesse a pena todo mundo ia tentar escrever também).

peguei um papel e manchei,
nele usei, coloquei
toda a desgraça e o ódio,
toda alegia e o sorriso,
é como uma casa se fechando,
as paredes entrando em mim,
mil facas, mil dores, mil choros.

com que propósito?
sou escravo de ser qualquer um.
o fim do amor

começa com uma ligação,
uma conexão,
um sentimento inquebrável
que se espatifa como vidro velho no chão florido.

e não é nada glamouroso,
é a vida escapando pelas suas mãos,
e a certeza de que lá se vai um pedaço da alma.
o relógio

que pergunta terei e quem serei
se nem um verso sai?
logo minha mente terá coisas mais importantes com que se preocupar do que essa história de poesia.
e aí?
ha ha
aí acabou tudo.

sinto o tempo passando estranhamente.
que faço eu com cada vez menos de mim?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

como conquistar uma mulher de verdade

sempre que encontrares um abrigo,
faça dele do teu gosto,
pinte, borde, solte o verbo,
pra deixá-lo sempre assim,
de um jeito no qual possa,
mesmo assim sem compromisso,
sem rima, nem submisso,
entender de onde venhas,
e ainda que não tenhas esperança,
num anacronismo ou numa lembrança,
me retoque com teu ser completo,
que ainda nessa vida
eu irei te abraçar.

que abraçando a tua alma,
simplesmente puro abraço,
teu amor ainda hei de ver ganhar.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

te faço gato e sapato,
te mato, trago e não trago
de maio, ao dezembro amargo
o que há pra se fazer?
te enterro, pego e não nego,
dispenso, troço e destroços,
pedaços, laços expostos,
movendo casos e acasos,
mortes morridas, matadas
vidas sem sorte, acabadas
amadas e mal amadas
de tanto despedaçar.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

inspirações e briguinhas de casal

algumas pessoas me perguntam
de onde vem inspiração,
que faz o coração tremer,
mexer meu corpo
e umedecer as pernas,
com versos cansados,
versos modernos,
de terno e gravata.

não sei responder,
de lugar nenhum, acabo dizendo,
e tremendo fico eu,
com tanto sentimento,
mesmo assim não faço questão.

poesia é só palavra,
não umedece nada
nem reclama o teu perdão.

domingo, 21 de agosto de 2011

paixão no largo da carioca

num gole só a bebo inteira,
tenho muitas garrafas em minha geladeira,
sua essência ainda muito em mim,
e de repente, assim, sem mais,
me sinto em paz, decente,
expondo um sentimento morno,
vivendo em torno de um bem querer,
um querer sem ter
aos montes,
bebendo das fontes de uma calmaria,
aqui dentro és mais puritana,
do que lá fora mostra-se vadia.

para conquistá-la por inteiro,
terei de esperar passar o dia.

(isso não deve ser bom para minha alegria)
companheirismo

e de todas as trivialidades de que me lembro,
aquelas nas quais estava
são as que tem a maioria das significações.
se não fosse por isso,
jamais estaria lendo essas cartas velhas
ou até mesmo pensando em como me arrependo de nunca ter sido realmente livre.
desempedido,
ou simplesmente desprovido de sentido
sem você comigo,
sem o barulho das canecas quebradas
nem tristezas gritadas.
só o fim me põe a prova.
de ser verdadeiro ou não.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

memória

faço a história,
de hora em hora,
sem demora,
não faço hora,
ora em pé, ora deitado,
desanimado,
sem ânimo,
em pânico ou êxtase,
metástase de pensamento,
palavras com o vento,
contra o vento,
medo,
desesperação,
de arma na mão,
lutando contra tudo e todos,
mortos, todos,
e nem sempre longe de tudo,
meus demônios participam.

faço agora,
presente, passado, futuro,
mudo,
desmudo,
mundo,
todo,
todo o mundo,
muda
na mudança da memória.

o agora pode nem sempre ser,
se a prisão do tempo tiver pra onde ir,
sem o ir e vir quem sou?
pensou a morte.

fim sem sorte, exclamei sem pensar,
e de tanto achar filosofia,
fui parar num posso sem fundo,
até o pescoço.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

não sei se gerado por curiosidade mórbida,
ou por loucura baseada em alcoolismo,
resolvi entender a mente feminina.

(...)

acabei cansado, triste, impotente,
de tanto chorar e participar de seus terrores.
se eu dissesse que tudo foi simples,
e pensamentos mudaram outras mentes,
tristes acasos, ora dormindo, ora acordado,
sem me ligar em amanhã?


terça-feira, 9 de agosto de 2011

crescimento

hoje conversei e me abri,
amanhã nem sei.
todas as coisas que senti, pensei,
eram estranhas no espelho.
não se vê mais tantos devaneios,
nem sentimentos de alegria e dons.

hoje eu sou moleque,
amanhã talvez,
não entenda mais o que é amar,
não saiba demais me enterrar
em tanta pouca idade sem responsabilidade.

e de hoje em diante prometo avançar,
ganhar tragédias e maturidade,
compor canções de rotas e coragens,
beijar as bocas sem contar vantagens,
cantar e afetar sonoridades,
crescer e florescer,
viver enfim.

e para que assim isso aconteça,
deve-se ter um pensamento apenas.
que todos outros rostos entristeçam
e o teu rosto seja mais ameno,
sem o peso do pranto e desgosto,
viver sem ter educação e dor,
mas se quiseres crescer ser humano,
terá que colorir-se de outra cor.