sábado, 12 de novembro de 2011

impenetrável


sou intragável,
intransponível,
insubordinado,
fraco.
não ligue para minhas significações,
morremos de pé como as árvores
e não merecemos perdões,
nem de nossas mães,
ventre livre, cheio de esperança,
vida mansa jamais tive,
abrigos invadi,
corações parti,
ainda mais o meu,
que um dia foi teu, mas já nem me lembro,
tento de tudo,
mas nada sucedo,
o sucesso é relativo
mas tenho medo de não ser feliz.


uma atriz de meia idade viciada em pó,
um porteiro de boate se transforma em Josi,
uma drag queen na Barbarela, Duvivier ou Prado Júnior,
quantos infortúnios fazem uma vida nova?
de quantos amores precisamos 
para termos certeza de que não existe nada,
nada, eu digo,
que nos faça divagar,
parar de olhar próprio umbigo,
e chorar sem parar num paraíso infernal 
e particular?


um poema velho num livro empoeirado,
um drama pesado de virar os olhos,
penetrando o impenetrável, como?
comendo com os olhos a morena,
a loira, sei lá, vou vivendo,
sem ereções, nem pretensões,
só reunindo vidas na minha,
atrelando cheiros,
mundos e fundos,
pensamentos miúdos
fazem minha identidade.


pasmem,
jamais serão como sou.

2 comentários:

  1. Excelente texto. São reflexões concretas e eivadas de paradigmas e comparações modernas.
    Em verdade jamais serão como você, sobretudo, no ponto de vista lírico.A discordar apenas de você comer as louras e morenas com os olhos. Essa tarefa é minha,assim como a falta de ereção e pretensões.Você pode e deve ser mais pragmático. Tem tempo e tesão para isso.Quanto a mim...
    Amo você e sua poesia.

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