sábado, 29 de dezembro de 2012

o relógio

tique, tac, tarda o toque,
toque tic, tic, tac, no relógio
eu vou vendo o meu tempo acabar.

tic, tac, tac, tic, vamos logo, vamos nessa,
de repente estou vendo
a vida inteira passar.

tic, tac, tac, tic,
o relógio de repente dá defeito,
e o tempo não para de girar?

os ponteiros se reúnem,
cochichando coisas sujas,
logo, logo
meus olhos irão fechar.

e aí não tem conserto
as minhas engrenagens enferrujadas.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

precisão.

juntando os cacos todos, me reconstruí inteiro.
um riso pelo teu

um riso pelo teu,
assim, sem mais nem menos falei,
sentindo o aroma do verão e teus cabelos
perfumados em minhas mãos.
com a beleza pérfida de mil sóis brilhando intensamente
no calor do rio de janeiro.

um riso pelo teu,
eu disse assim, do nada,
revelando meus medos,
tendo em ti minha morada,
tendo a vida inteira pra lembrar.

uma risada, assim, bem calculada,
desenhada por zeus
e suas namoradas.
sorriso de ninfa
que integrava cada mito dessa minha
mitologia apaixonada.
fúria

BUM!
os anjos desceram na explosão
e as trombetas soaram nos quatro cantos,
a vida de repente se encheu de flores,
e todas as coisas viraram comédia,
e a tragédia ficou guardada nos corações
do deus (seja lá quem este for).

sim, corações.

um para cada pensamento ruim
depois da instauração da nova ordem.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

um conto de natal (e suas prioridades)

um dia eis que acordo com ar diferente,
algo em mim se sente em uma outra época,
acendo velas, faço mil pedidos,
e minha casa parece floresta
com uma árvore no meio da sala,
diversas frutas espalhadas pela mesa,
um sorriso em cada esquina.

vou atabalhoado me adaptando,
me acostumando a ser de outros tempos,
menos venenos, trabalhos, dilemas,
menos problemas que tenho de enfrentar,
ponho a enfeitar a casa, a família inteira,
sem eira nem beira podemos estar,
mas se uma bola brilhante puder pendurar,
sinto que o dia valerá e muito.

sem muito mesmo ainda me alongar,
faço um pedido que será meu último,
quero um natal para as crianças pobres,
e que esse não seja meu último,
mas se a morte quiser me levar,
desprevinido estarei e nu,
ou durante a ceia a me empanturrar,
me engasgando com pedaço de peru
aceito.

mas quando o sol nascer no outro dia,
esse amor sairá de meu peito,
estarei desfeito bem mais gordo e mau,
mas pensem pelo lado bom,
vai faltar nem dois meses para o carnaval!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

o trovão

a chuva lá fora arranhava a janela,
maria a menina na cama escondia,
seus mimos, brinquedos, bonecas,
suas velas e seus travesseiros,
sozinha em casa a menina,
chorava em seus desesperos,
os raios lá fora dançavam
uma requiem todo especial.

se enfatiota toda, maria!
a mãe disse ao telefone,
que mamãe já chega,
vou pegar o bonde
pra chegar mais rápido
ver minha menina
e esse trovão,
não pega minha filha!

ela obedeceu,
entrou no edredom,
levou um biscoitinho
e ligou a vitrola.

eis que um dia chuvoso
se torna uma festa,
e um trovãozinho
é igual ir pra escola.
eu brinco

eu brinco de escrever,
brinco de ter, ser, ler,
brinco de inventar,
hibernar em vários seres,
saberes e deveres que tenho e não sei fazer.

eu brinco de dizer que brinco,
tantas brincadeiras que eu me perco todo
nessa ciranda de doido,
almanaques loucos que leio sem entender.

brinco de ser intelectual,
pseudo, vigarista
o maioral,
tremendo enganador profissional
agenciador de palavras recém saidas de suas rimas.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

poesia de helena

antes de conhecer helena
eu já sentia saudade.
saudade de empurrar o carrinho,
saudade dos brinquedinhos,
saudades do sorrisinho
e dos domingos de farra.
saudades da alegria,
saudades dela de birra,
saudades dela e das amigas,
comendo brigadeiro de panela,
saudades de ser criança,
saudades de estar criança,
saudades de embrulhá-la quando tinha cólicas,
saudades de retribuir o que tanto helena me dá.
felicidade.

antes de saber de helena,
veio a menina serelepe com o teste na mão
e me deu a notícia.
a notícia que abalou o mundo,
a notícia do gosto de estar vivo,
a notícia de um novo ser vivo
que me deixaria mais vivo e com mais visão.
a notícia que jornal nenhum tinha em suas páginas,
a notícia que de sua boca, era mágica,
a notícia que me fez bem, mais que o bem em si.

antes de pegar helena,
venho dizer que tenho certeza,
nunca havia pego em algo tão frágil,
tão tenro e meigo,
tão mole e dependente de mim,
tão fiél e tão amigo,
tão querido e tão amado,
é tão fácil amar helena!
como é fácil,
vendo seus cabelos enrolados,
suas mãos sujas do chão empoeirado,
e seus pés negros de brincar o dia inteiro.

tenho medo de deixar helena para trás,
tenho medo do que pode acontecer,
medo dela não encontrar paz,
tenho medo que o próprio medo desfaz,
quando vejo seu sorriso uma vez mais,
quando eu vejo que sou sortudo e tenho ainda mais
que um bando de roupinhas antigas e lembranças esquecidas.

antes de existir helena
tinha saudade.
saudade de coisas que ainda não vivera,
saudade de uma vida que antes dela não fazia sentido,
que antes de vida, era frio e intenso escuro,
e ela trouxe aquilo tudo que eu sempre quis.

antes de existir helena,
eu era ela.
só não sabia que vindo de outra barriga,
helena, tão minha,
ia doer mais em mim a sua não presença.