segunda-feira, 26 de março de 2012

escritor infâme

desculpe pela falta de talento,
falta de tato,
desalento,
falta de tudo
até entendo,
mas tinha que me fazer, ó zeus,
amante das palavras,
pra que pudesse, sem fim,
contemplar minhas merdas?

desculpe pela falta de respeito,
ajeito coisas aqui, acolá,
sempre sem medo de errar,
esse já sei ser o meu destino.

não se engane com meu jeito de te olhar,
não se jogue sem o medo de arriscar,
tenha prudência.

tenho vivência,
e até tento viver,
mas não dá.

sou falhado e cuspido,
exercido em triste existência,
mera falta de coincidência
dos criadores que não tem visão...

sou reticências
sem medo e amores,
cansei dos horrores que passei no chão.

sempre lento a entender, mais uma vez.

domingo, 25 de março de 2012

ouvinte e suas vantagens

as vezes quero ouvir alguém,
um segredo, uma coisa de alguém.
quem tem?

as vezes quero ouvir você,
um sussurro,
eu juro que quero,
não nego,
me entrego além da conta.

sei a hora de parar,
quebro garrafas,
me faço amar,
jogo com tudo
e contra tudo,
mudo, te tenho,
falante, já perco.

só sei ouvir,
e teu sexo aproveito assim.

domingo, 18 de março de 2012

cáfila

uma palavra nova,
um conceito,
um segredo,
um estreito,
uma estréia,
um começo,
uma novela,
loucura tanta,
sombra
jogado às traças,
às bombas.

lendo e relendo
resolvi montar
um texto usando o tão famigerado léxico.

comecei contando meus problemas,
cronique-se aliás, e conte-se,
faz bem.
não deu certo, não encaixei em nada a beleza da cáfila.

então fui pros anúncios de jornal,
procurando o dono da palavrinha mágica,
quem tinha inventado essa maravilha literária.
nada.
sem sucesso.

caí na poesia,
sem obrigações, rimas,
sem palhaçadas,
sem palavras feias,
feitas de trapos.
só pra descobrir e dizer que era um monte de camelos.
debaixo do tapete

debaixo do tapete
escondo.
as coisas ficam invisíveis?
não.
fica aquele calombo,
aquele caroço de pano cheio e retorcido,
revelando um traço,
uma poeirinha de falta de caráter,
uma pena de maldade,
uma sujeira de nada,
se torna uma coisa absurda,
um pedaço de vômito,
um pano imundo
numa vida outrora limpa.

pensa comigo, leitor.

vale a pena jogar tudo pra debaixo do tapete?
varrer, soprar, tentar esconder, conciliar,
adjetivar seus infinitivos
infinitamente mediano,
medíocre, insano,
sem ter um plano
achar que pode enganar todo mundo?

viva a sua vida assim.
te vejo no fim.
veremos quem tem mais garrafas de pensamento,
eu no firmamento
e você embaixo do pé.

onde o choro não é escutado,
e a pedra que você carrega ladeira acima
desce no final do dia e o processo se repete.

não olha pra trás,
senão você vê o que quer,
mas o que quer jamais vai ter de novo.
tradutor


o que eu quero é ter alguém,
o que eu quero não tem tradução,
o que eu vivo não tem mais perdão,
o que eu rimo já cansou o ão,
de leve eu perco as estribeiras,
fico sem eira
à beira do abismo,
absinto,
lirismo,
sentimentalismos estranhos,
palavras dotadas de palavras,
sons,
vozes.


o que eu quero é ver o que ninguém vê,
chamar atenção,
ser e sem ter com você
o inferno de sempre
confiar-te minhas coisas,
guardadas numa caixinha,
branca com fita dourada,
amarrada e fechada à sete chaves.
na caixinha guardo minhas felicidades,
mesmo que pequenininhas,
guardo minhas alegrias,
fotos das filhas,
até diafragmas usados tem!
entrego minha vida a ti,
saibas o que faz com ela,
pois és professor de meus beijos,
abraços,
és guardador de meus selos,
és guia das minhas estradas,
todas as bifurcações,
és romântico epiléptico,
me faz tremer as paixões,
as pernas,
escreve poemas até em inglês.
dia desses li:

"you are what my mother's asked from the gods,
wise they are for leting you live their lives,
i'd shown you my words
you haven't unbuttoned your pants,
you have some sort of power,
that can turn me into an animal,
i swear to god you make me horny,
i feel like eating you up just like hannibal.
i wanna feel the taste of your flower,
finish you up and leave you drained on the top of the bed
but if you start chating about babies,
i'll put a dolar on your forehead"

achei tão lindo e charmoso,
por ser escrito em inglês,
gosto de ser assim mesmo,
tradutor não precisa, a minha estupidez.

domingo, 11 de março de 2012

vovó


vovó nunca me deixe só,
me deixe esquecer que sou teu neto e só,
me faça viver sem ter vivido aqui,
me faça ir lá, não me faça sair,
não me dê dinheiro, me dê alegria,
ou talvez dinheiro ou alegria,
dê-me o que tiveres,
que eu saberei,
quando filhos tiver
te bem tratar irei,
quando estiver assim,
bem velha e curvada,
lembrando de um céu,
paisagem nublada,
meu amor por ti
já não me muda nada,
sempre estive aqui,
nunca lhe pedi nada.


vovó nunca me deixe solta,
de teus pensamentos leves como pluma,
se tiveres que ir, por favor não suma,
se tiveres que ser, por favor não seja,
veja,
o que tenho para lhe mostrar,
é mesmo o que tenho para lhe mostrar,
um desenho, um cometa, uma estrela,
um castelo, um filme, uma besta,
um monstro, um poema, uma cena,
veja!
seja tudo que eu sempre quis.


vovó por favor não se afaste,
que de mim tens tudo e não tens mesmo nada,
se preciso for alugo várias casas,
e coloco tuas memórias lá dentro,
para que não fujas em esquecimento,
para que me tenhas em qualquer momento.


só vasculhe dentro e de mim saberá.


vovó por favor já não morra,
que leve a mim ou a qualquer pessoa,
que deus cruel faria essa alma boa
ter que dizer adeus pra mim agora?


temos enfim a resposta pra tudo,
ou só está na hora de ir embora?


só a vovó sabe.

desilusão

vai idiota.
escolha bem os teus amores,
pra que não passes por isso,
pra que não se entregue aos vícios,
para enfim poder de fato amar.

vai idiota.
idolatra coisas vomitadas,
dramatiza gente mal amada,
pra que nada te adentre como sempre,
pra que voltes então ao teu ventre,
para assim poder de fato ver.

vai idiota,
ame outra puta
ou se jogue as traças,
entre o calor da loucura
e o frio da espada,
se coloque no caminho de quem abre os teus.

vai idiota.
seja você mesmo e ninguém mais que isso,
aprenda com seus erros, talvez menos omisso,
outra mulher vai amar o que tens.

chora idiota.
teus pensamentos voam,
cheios de sentimento,
mãos trêmulas escrevem coisas,
tocam escrementos,
piores que o cabelo dessa messalina,
piores que os seios dessa tresloucada,
piores que o colo, a vista, a vida,
enfim, piores.

piores que teu bem querer.

sábado, 10 de março de 2012


produção textual

juntei uns cacos,
rostos magros,
quadris largos,
quadros feios,
gente feia,
pobre,
sem meia,
coisas sujas na veia,
numa teia que puxa outras coisas,
moitas,
flores,
sabores e amores,
dores,
todos tão ores e ados
e vagos,
safados e tragos,
cigarros, bebidas,
amigas,
vidas,
e pronto.

tá feita uma poesia besta que qualquer um pode escrever.

sexta-feira, 9 de março de 2012


amigos, amores, perdido


preciso de todos os meus amigos de verdade
juntos numa sala pequena,
me livrando da saudade intensa,
me ajudando a escrever poemas.


preciso de todos que um dia sorriram pra mim,
me dando forças pra continuar,
tendo um carinho sem igual assim.


preciso de meia dúzia de eu te amos,
sinceros meus, teus, seus, nossos,
quero chamar alguém de minha linda,
quero te ter sozinho e sem problemas.


preciso de uma rima que me salve
dessa terrível e estranha esperança,
porque esperar nunca levou a nada,
e nem tão pouco toda essa vingança.

quarta-feira, 7 de março de 2012


poesia de aniversários


temo saber que o tempo passa
como inventamos descobertas,
às vezes rapido demais,
às vezes sem pressa.


temo saber que estamos indo embora
como travamos as batalhas,
ora sujando as mãos,
ora da porta pra fora.


temo saber que estás envelhecendo
como eu estou envelhecendo,
até que não sobre nada,
só o pó dos ossos,
coisas de artistas,
músicas fora de moda,
o mundo sem ninguém.


tu não estás lá.


temo estar ficando louco,
escrevendo coisas loucas,
coisas poucas,
sustentando bocas,
vestindo novas roupas.


tu não estás lá.


mas esteve.


é disso que me lembrarei.


temos que seguir em frente,
felicidade não se compra nem se vende.
é medida em momentos de ventos que sopram forte e sem a sombra da morte a espreitar.


o que se espera da idade?


seria eu o único a me desesperar?
me entristecer com o entardecer?


seja essencial já.
seja leal já.


um aniversário pode levar tudo embora.