sábado, 29 de janeiro de 2011

crescimento

andando virei andarilho, gozei, maltrapilho, a desunião,
de um povo ereto e contente, covarde querente de querer ou não.

passo então a sonhar,
e de trás pra frente aprendo o que é amar,
e no olhar surpreendo o que quero,
sem querer nem mesmo o sincero,
sem acertar o que entendo por mim.

o que querem não tem mesmo fim.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

meio ano, meio ano

me entrego e não nego
que entrego-me todo,
num trago, um afago,
num transe um desgosto.
em agosto um problema,
setembro um dilema,
outubro sem braço
me leva a esperança,
novembro a lembrança de um ano acabado
e num pensamento, dezembro me chega,
chega! eu penso, e em tanto regresso,
com verso eu converso e mato uma brisa
fechando a janela.

minha mente, esparrela haverá de cair
e no passar dos anos inteiros, intensos,
animais, remendos que penso em juntar,
isso tudo em janeiro, entenda meu lado,
acontecerá.
fevereiro a folia, folgada e sem tarso,
com meu pé quebrado chegamos em março,
e a bebida já tira os sentidos,
que será daqueles que o olho já viu?
e com pensamentos me vejo em abril.

em maio caio,
desesperanças me esvaio e me traio em amor demais,
coincidencias demais,
estranhezas de menos...
devo estar chegando em junho,
onde o cunho dos antepassados,
maltrapilhos e maltratados, somem, empoeirados,
rezando as novenas a crentes encapuzados.
eis que julho bate a minha porta,
vingando as mortes e matando as voltas,
encontrando trovas e cantando as donas,
enveredando sonhos e casando as moças
enlouquecendo mestres e bancando as bocas.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

o inacabável inalcançavel

acabando um conto
a gente aumenta um pouco,
mesmo tudo e todos ele há de alegrar,
e se não acaba
a gente só atrasa
a leitura embaça
poesia fracassa,
sem felicidade,
sem integridade
e sem tem alguém com quem compartilhar.

faça isso, agora
ponha para fora,
veja com quem mora,
coisas que te fazem,
notícias te trazem,
e aí explode,
escreve, se sacode,
e sem tanta morte
das palavras sim!
escreva, escreva, escreva,
não deixe acabado
sem acabamento...

senta e te inspira,
ser um mal amado
não traz nada,
só ressentimento.

se nada sair, eu invento.
invento um tudo pra todo mundo ler,
invento um guerreiro, um poema sem lei,
espero que leiam e se inspirei, sei,
que nada sei, mas de escrever me faço.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

poesia não tem serventia

versos, versos, versos
para quê os quero,
senão para dar a quem gosto,
num envelope lacrado
com toda a felicidade,
todo o carinho
e tudo mais que for de bom.

versos, versos, versos,
para quê os escrevo,
senão para expressar só o que não vejo,
sentir só o que não sinto,
e então sair do tom.

sábado, 1 de janeiro de 2011

e foi apenas uma noite estranha e triste

que serventia tem as más impressões da vida,
e as pessoas, tão atiçadas com suas próprias convicções
que dizem que tudo está tão vivo, mas por dentro estão mortas?
esperando alguém socorrê-las,
esperando o anúncio das trombetas,
esperando um sinal
e sempre traindo seus sonhos.

sonhos.
com o quê ou de quê são feitos?
quisera eu poder apalpá-los, ou pisar em cima
como grama fofinha ou terra molhada.
do quê são feitos os sonhos,
tão escondidos na beleza das coisas e tão
comedidos em acometerem-se?
e contentamo-nos..

com tanto poder podre nas mãos
ainda mais podres,
como pode um sonho nascer,
ainda que seja um sonho pequeno,
ainda chorando e querendo acalanto,
querendo ainda afirmar-se?
mãos pálidas ainda existem
e são encontradas nos mais distantes cantos do mundo,
mas existem sim.
e encontrá-las é o desafio.

encontrar um sonho,
uma esperança,
encontrar um encontro que seja.
nem que o tal encontro se esconda no sonho,
e encontrá-lo já se torne um sonho,
e sonhar já seria encontrar
e então acabaria o choro.
então acabariam as tais mãos pálidas,
e então não sofreríamos mais.

a pureza não se tem, se compra, se faz acreditar,
e quem acredita em pureza, se não tem pra quem vender?
autocrítica

me disseram uma vez que escrevo coisas sobre a minha própria vida,
e então discordei, mas não.
digo que não pois quero escapar de meus próprios refúgios,
onde talvez tenha perdido tudo que dizia sempre ter.
escrevo onde dói.

mãos,
pés,
cabeça,
embaixo dos fios de cabelo superficiais.

mas ainda assim escrevo coisas sobre minha própria vida
e então discordo.

certa vez disseram-me que desistisse de escrever,
que fosse para meu próprio bem,
que arrumasse outra forma de 'entretenimento'
que desse sentido maior a minha vida.
escrevo então aí onde dói.

meu ego,
meus ouvidos,
minhas mãos suadas,
meus pais e suas oportunidades jogadas no lixo.

mas ainda assim continuo escrevendo coisas sobre minha vida
e então discordando, para que me esconda.

outra vez me disseram que minhas coisas,
(textos escritos de qualquer maneira)
eram tão maravilhosos que lê-los dava vontade de rir e chorar,
passar os olhos por tudo aquilo era quase mágico,
incrível experiência gratificante.
escrevo também onde dói.

lugar nenhum.

logo nenhuma linda linha saíra.
brasil urgente

comunicamos ao brasil
que suas matas estão sumindo,
seus rios secam enquanto sua gente clama,
riquezas brotam enquanto a gente morre,
e enche os bolsos de alguns.
caso o brasil não saiba,
tá na hora de mudar,
a mudança é consequente,
nossa gente tá carente,
nossa situação é urgente.
juntos

juntos, meu bem, iremos,
até o vale verde e sereno,
um lugar estranho e pequeno,
para que enfim possamos nos amar.

juntos, meu bem, iremos,
conhecer a fé e o vento,
seremos tu e eu, nosso alento,
porto seguro de vida e de cor.

juntos, meu bem, saberemos
o valor de cada verso, ao menos
os versinhos mais intensos,
o cantar de cada tema e só.

juntos, meu bem, morreremos,
sabendo que cada dia provemos
um ao outro com tudo que temos.

e o que temos nos bastou e só.