quinta-feira, 29 de setembro de 2011

susto

como um gato sorrateiro,
vem uma sombra feia,
tentando em vão tirar a vida alheia,
pois não dá conta do amor que a cerca.
preocupações viram festa,
rugas, viram gargalhadas...

dia desses lembramos de tudo
que um dia nos tirou o sono,
mas como posso sobre isso refletir
sem ao menos deixar uma lágrima?

simples.

lágrimas só sofrem quem é triste,
e neste poema, isso não existe.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

tudo que via era assim,
um espelho de mim, preso eu estava,
não sabia se o que via era tudo preto,
ou se era eu mesmo que não prestava.
na cidade grande as luzes se acendem,
e escondem a própria escuridão,
lá dentro, bem no fundo,
o conto de fadas é uma farsa
e novos vilões se vestem de carochinha.
e numa troca de olhares simpáticos,
um cotidiano nasceu,
virou aquilo que todos esperavam,
e prosperou.
e foi numa troca de olhares rancorosos,
que tudo foi desmoronar.

é sempre assim,
um olhar de ódio,
um de desesperança.
água de gente

entrei numa piscina humana
e me afoguei,
percebi que dentro dela,
não era água que tinha,
mas tinha a mim e a vocês,
tentava respirar, não conseguia,
me puxavam pra baixo,
tentava escalar as cabeças e braços,
e só ouvia vozes exaltadas,
exacerbadas de desespero.

a piscina era a consciência,
e nela hoje me vejo trancafiado,
refém por inteiro.

há quem se identifique,
haverá ainda mais dor na escuridão,
até que o sol se ponha
e nenhum coitado se exponha.
pegue papel e caneta e faça uma receita:
uma pitada de se,
umas colheres de talvez,
quem sabe um pouco disso e daquilo.
nessa mistura nasce um verso,
feio, sujo, velho,
mas vivo, querendo ganhar o mundo,
sortudo sou eu que junto,
e sofrendo mudo,
sofrendo tudo,
escrevo uns gritos da alma.
gente como a gente
precisa entender o que é o amor.
perguntei pra mim,
mas só quem sabe mesmo são meus pais,
de cujo amor sou fruto,
mas ainda incapaz.
dia desses me peguei pensando,
com o coração batendo a mil...
mil frivolidades, banalidades,
quebrando em pedaços minha calmaria.
só escrevo quando sou infeliz.
só escrevo assim, tarde da noite,
calado, no açoite
no raiar do dia,
queria eu viver alguém,
mas só sei não ser.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

estrela cadente

uma estrela me avisou que minha vida ia mudar,
sei lá, comecei a cantar, bater o pé no chão,
tremer de emoção,
mas não,
era um mudar diferente,
e o meu feliz e contente,
virou é preocupação.
a estrela sapeca, era em verdade cadente,
já no fim, inconsequente,
quis mexer com meus temores,
as promessas e os amores
que um dia hei de ter,
não são por causa de uma estrela,
brilho fraco,
quase morta,
mas que hoje já não sei não ver.

e quanta luz ela me traz, meu Pai!
tanto vida ela me dá,
que ela própria não notou
que a mudança ela que fez,
para mim e pra vocês,
só olhar pro céu e pronto.

quantas rimas eu mereço,
o meu brilho, desconheço,
mas a estrela me disse, caindo,
que eu caio com ela se não me aprumar.

a mudança da sua vida,
mundana vista do mundo,
você começa agora.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

a estrada

uma estrada longa e velha,
manchada com sangue, choros e velas,
estampada nas telas de qualquer pintor,
representa então, tal estrada o amor
de quem sonhou um dia passa lá por ela?
aliás de quem era esse sonho?
e na estrada corre um drama à toa,
uma comédia, vidas ruins e boas,
ritmos, rimas, loucos,
e de esperança não morrem jamais.
sabem da vida da gente,
felizes, contentes porque da estrada vivo ninguém sai.

o nome da estrada é solidão, dizem,
sem solução, cometemos deslizes,
sem as estrófes não somos felizes,
a vagar devagar pelo tempo,
sem acalmar os ânimos ao menos um momento,
sem jogar uma palavra ao vento,
dentro de um coração amargurado,
que de pirraça não foi visitado
por ninguém a não ser por ti mesmo,
se um dia pensares que o coração morre,
organizarei para ti um cortejo.

desde pequeno sonho com meu dia,
em que da estrada enfim saírei,
no horizonte já enxergo uma esquina,
uma vida inteira sabendo o que sei.

que o caminho se encerra talvez.
acústica

a sala inteira respirava fundo,
coisas novas, mundo novo, tudo.
eu gritava dentro de mim, mudo,
e entrava em pânico em silêncio.

quando alguém falava bem baixinho,
era estranho, sentimento intenso,
e a acústica do pensamento,
ecoava a minoria inteira.

me perdoe se começo tudo,
e no mundo em si já me revelo,
e nessas rimas ridículas, tolas,
entram em cena essas palavras belas.
mas não vou me dar tão por vencido,
se sumido me entrego todo,
e gritando me vejo, calado,
e pensando a acústica me leva.

só há um problema em pensar,
falar sem ter passado pelo filtro,
nessa sala mal iluminada...

(o barulho esconde minhas besteiras).
há um cansaço estranho em mim,
enfim posso ver o escuro,
tudo a frente, sempre em frente é tudo
que não posso presenciar.
onde posso estar?

há um humor estranho em mim,
sim! ainda tenho salvação,
amor pra dar,
não! não posso ainda desmistificar
o invulnerável em mim e evoluir,
terminarei por ruir como um todo.

há um fim estranho em mim,
a luz desaparece,
cresce o poder,
apagam-se as luzes,
apego-me as cruzes,
mudas de tanto falar de Deus.
e aos ateus, não vos resta nada,
reflexões apenas em hora errada,
apenas sombras dessa luta armada,
que um dia nos fez ter lembranças...

















de um tempo que hoje não existe,
passado já foi, mas dele esqueço montes,
de vidas minhas, outras degradantes,
e em meus olhos brilhos de um desejo antigo.
canção do idealismo

ainda que seja forte a jornada,
e meu espírito ferrenho aqueça,
eu luto claramente por beleza,
por um amor, natureza acabada.

de toda vida só carrego a mim,
no coração carrego mais de mim,
por mais que peça a você que venha,
carrego em mim as cores do Brasil.

levo a coragem da mudança intensa,
o que preciso, voltar a lutar,
pois nada vai mudar a minha crença
de que estou aonde devo estar.

não pego em armas, só meu coração,
de vida livre a liberdade sofre,
mantenho minhas armas em meu cofre,
à minha eterna luta contra o não.

basta minha estrela tornar-se imortal
lutando ou nunca sucumbindo ao mal.
carência de sentido

é bem subjetivo, meu amigo,
esse negócio doido de carência de sentido!
se eu tô vivo e respirando,
me lembrando, interessado,
querendo a história cientificar...

não me venha dando uma de esperto,
mexendo e trocando de lugar,
levando de um lado pro outro,
girando a minha matriz disciplinar!
juro que não volto,
volto a não jurar,
fico mudo, discursando
e deslumbro a alegria,
sorria, chore!
perceba que não estás em má companhia!
dizem que não escrevo de amor.

bom.

é que pouco sei sobre tal coisa,
e não gosto de mentiras.
que seria eu, ao contar a mais cruel de todas?
incerto

é incerto viver, ter,
é incerto um porque, querer saber,
é incerto você me pedindo perdão,
é incerto a incerteza de ser quem não sou,
e me vou, sabendo que aos poucos,
em cada pergunta me esqueço onde estou.
do lado de dentro

do lado de dentro me vejo incompleto,
estranho, invertido,
um sino toca na cabeça e eu mudo
o tom da conversa e da consciência,
a poesia tem prosa e verso,
esquece de me ver desmoronar.
se tivesse pro'nde ir, ia logo,
sem enrolar,
e fazia dessa poesia doida,
sem rima, sentido,
com certeza o meu lugar.
a missão (o mistério do poeta)

tenho um dever nessa vida,
tenho aqui uma missão.
trazer amor,
trazer calor,
enfim, viver por ti,
sem mim, nem eu,
só teu, serei.

quanto tempo fiquei aqui a pensar,
que um verso longo não vai aguentar,
se hoje tenho isso
sem vida, ser vivo,
olhar teus olhos, omisso,
beleza em si, me entristeço,
e com saudade olho para trás...
atrás de mim tem um milhão,
milhões de sonhos, milhões de amores,
calores.

e eu com frio, sozinho e de porre.
o escrever do eu escravo

escrevo um poema,
enredos para cinema,
e talvez depois me falte vida pra continuar.

escrevo pois quero minha vida mudar,
escrever me dá
e ainda quer receber,
então minha alma depende do ser...

(se valesse a pena todo mundo ia tentar escrever também).

peguei um papel e manchei,
nele usei, coloquei
toda a desgraça e o ódio,
toda alegia e o sorriso,
é como uma casa se fechando,
as paredes entrando em mim,
mil facas, mil dores, mil choros.

com que propósito?
sou escravo de ser qualquer um.
o fim do amor

começa com uma ligação,
uma conexão,
um sentimento inquebrável
que se espatifa como vidro velho no chão florido.

e não é nada glamouroso,
é a vida escapando pelas suas mãos,
e a certeza de que lá se vai um pedaço da alma.
o relógio

que pergunta terei e quem serei
se nem um verso sai?
logo minha mente terá coisas mais importantes com que se preocupar do que essa história de poesia.
e aí?
ha ha
aí acabou tudo.

sinto o tempo passando estranhamente.
que faço eu com cada vez menos de mim?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

como conquistar uma mulher de verdade

sempre que encontrares um abrigo,
faça dele do teu gosto,
pinte, borde, solte o verbo,
pra deixá-lo sempre assim,
de um jeito no qual possa,
mesmo assim sem compromisso,
sem rima, nem submisso,
entender de onde venhas,
e ainda que não tenhas esperança,
num anacronismo ou numa lembrança,
me retoque com teu ser completo,
que ainda nessa vida
eu irei te abraçar.

que abraçando a tua alma,
simplesmente puro abraço,
teu amor ainda hei de ver ganhar.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

te faço gato e sapato,
te mato, trago e não trago
de maio, ao dezembro amargo
o que há pra se fazer?
te enterro, pego e não nego,
dispenso, troço e destroços,
pedaços, laços expostos,
movendo casos e acasos,
mortes morridas, matadas
vidas sem sorte, acabadas
amadas e mal amadas
de tanto despedaçar.