terça-feira, 28 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
sinusite inusitada,
muda a mim e as palavras,
encalhadas, encostadas,
e trocadas, retorcidas,
e zangadas, comedidas,
inibidas e acabadas.
sinusite, coisa chata
vá embora, não, me larga!
tanta febre, tanta dor,
que impecilho ao amor,
à diversão tem aversão,
e à alegria tem horror,
que pavor da sinusite,
mal amada, coisa amarga,
dia desses tomo a pílula
e esse catarro me larga.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
transo as palavras,
uma após a outra.
um fio de náilon,
macio,
esticado,
a poesia nasce do sexo linguístico,
a transa poética,
a sujeira mesquinha.
palavras transadas,
trocadas,
jogadas,
usadas e reaproveitadas.
a poesia nasce também do lixo,
da perturbação, da dor,
dor de viver e
a dor de amar.
quando transo as palavras
elas gemem de prazer,
entrelaçando,
combinando,
que ferocidade!
o poema range os dentes para quem escreve,
é vida própria, inteligente,
aflitiva,
foge do papel e vai ganhar o coração de alguém.
leia um poema.
se não se emocionar
garanto que enfio uma faca no peito
e ainda hoje deixo este mundo.
a palavra é sensual,
mas só o poema é sexual,
voluptuoso,
libidinoso,
impuro,
escuro,
em cima do muro.
poema é um dia inteiro na cama
gritando sem ninguém ouvir,
você e seu amor,
sem pudor,
com vigor,
com dor,
uma flor.
flor no cabelo da menina
e sentimento sendo explorado.
escrever é bom,
a melhor coisa do mundo,
mas eu não escrevo,
eu transo palavras,
e essa sensação você ainda não conhece,
estremece de me ver transar,
palavras ao vento você pode jogar,
mas só eu vou dizer pra onde vai cada coisa
e ela encaixa em perfeição.
sabe o que é isso?
não?
então continua escrevendo
se isso dá sentido à sua vida medíocre
e morra poeticamente virgem.
como posso aceitar
que todos os meus sonhos tenham sido devorados?
como posso aceitar
que todos os meus familiares tenham morrido?
como posso querer
formar nova família em meio a tanta dor?
como posso encontrar
pessoas que valham a pena conversar?
como posso dizer
eu te amo, vivendo nesse mundo de ódio?
como posso dizer
eu te odeio, com tanto amor em meu coração?
como posso ter
dinheiro, carros, casas
se não sou capitalista?
como posso entender
a beleza das coisas em meio a coisas feias e a falta de cultura?
como posso saber o que é bom ou ruim?
simples.
a poesia ensina.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
fiquei a manhã toda esperando...
e esperando eu pude entender
que nada era um acaso.
ali, ao ar livre, me libertava cada vez mais de velhas percepções
e mergulhava em um mar de diversidades,
todas sorrindo radiantes e me apresentando ao mundo novo,
mas esperando a gente lembra de coisas, cartilhas velhas, segredos,
coisas guardadas, às vezes até nossos medos internos (que Deus os tenha),
que já nem guardo mais.
fiquei a tarde inteira esperando...
e junto da espera vieram valores,
que tanto lutava para não adquirir,
sentimentos, mudanças, uma nova respiração,
o ar dessa tarde ociosa e ansiosa era tudo o que eu precisava
para dar sentido ao todo que me via de tão perto,
tão incerto e tão moderno que nada podia ver, nem que quisesse
na teimosia exacerbada de arrogância e petulância sem fim nem querer.
fiquei a noite inteira esperando...
e foi-se embora a paciência,
a poesia não espera para sair,
e eu até quis me segurar,
mas acabei cuspindo versos de fora pra dentro,
e acabei me maculando inteiro de alegria.
quando finalmente chegou o que eu nem sequer procurava, mergulhei,
tão fundo quanto se pode mergulhar, um olhar e um sorriso que evidenciam a beleza da alma,
um romantismo tão profundo quanto um corte de papel
e a relatividade de um furacão, que vem destruindo tudo e todos,
mas que todo mundo tem curiosidade de ficar olhando.
teus olhos me mostram fraqueza,
teus dentes escancarados me mostram franqueza,
e tudo junto em teu corpo me faz perguntar onde quero estar,
contigo?
é tão incerto quanto um dia triste de acabar,
mas um dia então hei de saber o que se passa
e colocarei meus óculos para ver melhor,
ou então devolverei os teus,
para que me vejas também pensar em ti.
domingo, 12 de dezembro de 2010
www.
com ponto bê erre,
no meio deve ter coisa,
cadê, não, isso não abre...
e me tira a paciência,
tô em subserviência
e a internet é esse lixo.
sou eu agora um bicho?
duplo clique e lá vou eu
navegando sem barco,
acessando a exclusão,
condenando a enciclopédia
ao esquecimento,
fazendo download da ignorãncia.
Porque ele gosta, Kai, é pra você.
salve-se quem puder,
problemáticos e problemáticas!
quem tem coragem de vingar as mortes
e puxar os cabelos das crianças e dos políticos,
perder as estribeiras e os caminhos,
se sentir perdido e arruinado?
a palhaçada se tornou geral
na sátira social do Brasil,
é o país da gargalhada,
das poesias maduras e velhas,
dos maus gostos e doenças venéreas,
das loucuras e problemas mil.
salve-se quem puder, eu repito,
dos movimentos da pá virada,
dos falsos moralistas,do PT e os DEMocrátas
esperando sua hora de chegar...
opa! espera que essa hora já chegou
e o povo tá demorando a entender,
que cagando sobre nossas cabeças
é que eles ganham votos
e viram Dilma,
ou Silma, Vilma,
é tudo brasileiro amigo
do apelo social,
e a vesguice da democracia
não importa, tá sempre olhando pro mesmo lugar.
é o fascismo acobertado,
o nacional-socialismo
e tudo indo pro brejo
à gargalhadas de Adolf e Benito bonito,
que vício de linguagem que nada,
é o poema da política às avessas
e a roupa engraçada,
e as pessoas abastadas que não sobem ao poder.
mas que lindo!
quando eu boto a mão na consciência
só sai desgraça sem graça
e lembranças empoeiradas do que ainda está por vir.
faço de tudo para honrar o sangue dos meus irmãos
ao som das mulheres fruta,
e as trombetas do inferno que me aguarde
porque eu tô chegando.
vou fazer um churrasco,
sem eira nem beira,
vou fazer zoeira, quer você ou não.
só não digo quem eu sou,
aliás até lhe digo
que na rima estou procurando um abrigo
mas a alma já foi e eu só vejo o depois manifestar-se agora,
vestido de seda e linho,
branco é a cor do colarinho
e pegam você sem demora.
e termino essa carta com um 'boa sorte',
tenha você certeza de ser,
seja você e não saiba porque,
pior que está eu já nem sei o que,
mas sempre pode acontecer de piorar mais.
sábado, 11 de dezembro de 2010
era uma vez um livro que se apagou porque ninguém lia,
era uma vez um alguém que ninguém mais sentia,
era uma vez um poeta que usava as palavras
como se tudo fosse resolvível,
e então por ser ignorado,
o belo poeta foi viver lá longe.
e um belo poema nasceu do exílio
e foi ser declamado pra lá de além mar,
e cansado de tanto descaso,
foi se desmembrando em palavras sem fim,
até que um acento, divertido que só ele
foi procurar cada sílaba,
mas cansado de tanta aventura, se enforcou numa velha figueira.
então as árvores cansadas, foram derrubadas,
sem nenhum pudor, nem sequer uma lágrima
e esse poema se acaba sem ter começado
e talvez se tivesse começado, ninguém tivesse notado
e a vida seguisse como sempre foi.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
venho por intermédio deste poema ridículo
que te amei, mas não tive coragem de dizer,
te quis mas não tive coragem de falar,
te desejei mas não pude contar,
e morri sem que soubesse onde estava.
também gostaria de compartilhar aqui
que de todas as mulheres que nunca souberam da minha existência
você era a mais linda,
mas eu era muito covarde e logo, nada fiz para chamar tua atenção,
não pude suportar o desconforto de te ver passar todo santo dia na praça e me contentava em ver apenas o que meus olhos imaginavam.
criava pra mim uma loucura boba,
uma visão turva do futuro bom contigo.
ao teu lado tive carinho,
ternura,
conheci o amor e o sexo,
enfim soube ter família,
não desmembrada e triste como a minha,
mas alegre como um dia de sol.
com você me vi um espírito de luz,
vagando pela humanidade com um propósito desconhecido e até malicioso de ser,
e nada mais era de se querer como o próprio querer bem que se quis,
e o próprio amar bem de se amar,
sem nem pensar,
sem nem olhar para trás.
e lutando contra mim mesmo voltei a mim,
lutando contra tudo e contra todos, voltei a tudo e contemplei todos
e nada mais queria que a própria vontade pudesse me dar,
e nada me dariam que a própria alma pudesse transformar
e o sentimento vai se indo ao vento de ventos que os próprios não iram mais soprar,
e a tua beleza é de fato, tristeza, que eu todo triste me pus a pensar.
que será?
a felicidade é tão ruim assim,
pergunto nesta carta póstuma e desequilibrada
que provavelmente não lerás
e à leitura que nem a essas letras não mais causará,
o transtorno tornado, de um transe acabado e uma poesia mal acabada
e tosca,
não faria mal à uma mosca,
nem que fosse para me salvar.
venho por intermédio desse poema ridículo lhe dar motivos para me querer,
e que em teu grande leito de silêncio possa ouvir meus sussuros
e chorar a noite e pela noite adentrar
sem ter a quem recorrer,
sem nem onde andar.
e também digo que chego ao fim,
sem nem ao menos chegar.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
o sentimento exacerbado,
tão peculiar de quem nunca escreveu,
deve ser guardado à sete chaves,
e nunca exposta ao interior da alma.
que alma? posso dizer,
e aí nada é direito,
tudo pode ser corrompido quando não há o que falar,
mostre-se através de relevâncias e descreva-se quando for morrer,
não antes.
mas como fazer?
simples,
não pergunte à quem escreve o que se sente,
as almas dos poetas, junto com seus corações,
são esquecidas e jogadas às traças
para que ninguém um dia saiba quem as conjurou.
num baú o poeta tem uma alma que ele mesmo criou e assim será,
quem discute? é impossível tentar adentrar o inimaginável
e mais incrível é aquele que nunca tenta.
inventa.
transcende.
aguarda.
finge.
acaba.
inventa o seu eu inentrável,
transcende a dor,
aguarda o conhecimento,
finge que sente
e acaba mágico.
abre o olho, mulher! e pára e pensa!
que fazes pra ser assim tão amarga?
como pode ser assim tão séria?
abre o olho e de uma vez enxerga a beleza,
só uma vez ignora o infinitivo e o acabativo,
ignora também o subjuntivo e o judiciário,
aproveita e me aguarde com o imperativo e o precário na mão.
abre o olho e me veja nos sonhos,
sempre tão ávido por ti, um saber estranho,
um poema horrível porém luxuoso
é só o que tenho a te oferecer,
e não é nem por querer
mas não tenho nada mesmo.
quem seria se pudesse olhar pra trás,
fazer tudo diferente,
dar valor e flores,
despertar amores e mandar cartinhas com figuras,
adesivos e perfumes de menina para que te identificasse,
quem seria se fizesse tudo isso,
e ainda provasse o sexo de forma ótima
como um louco apaixonado faria,
insaciável e atrasado para que chegasse à minha frente?
abre os olhos, mulher!
tudo que tem à tua volta é lindo.
amor, vinho, pão, um fogão, uma geladeira,
uma máquina dessas modernas de fazer suco
e ainda uma vassoura nova,
uma batedeira e um óculos de leitura,
tudo dado pelo romântico que leva a tira colo.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
acendo um incenso, cavo minha cova,
entendo a alegria e suspendo de vez,
embora queria que existisse em fim
alguém que pudesse em um mês,
me fazer chorar.
sonhando eu detesto você,
e lhe rogo uma praga,
sonhando eu detesto ler
e meu sonho é uma chaga,
que o próprio sonhar não pode me dizer.
pennsemos onde irá parar a ignorância.
por um momento sejamos nós os detentores da salvação do mundo
e de todo o caso nos façamos reis da razão e da criação,
colocando-nos acima dos Deuses que governam em silêncio todas as coisas.
pensemos que a palavra, um dia pode ter em sua magia, o espírito ddos intelectuais de outrora e se faça presente em cada discurso,
cada verso,
cada flor que se vê.
agora façamos o seguinte:
paremos de ler poemas,
paremos com os morfemas e as frases feitas,
que todos nós sejamos tomados por uma súbita vontade de nos mudar para o campo,
num arcadismo moderno,
num desastroso inverno poético.
que sobra, então?
um tanto de pessoas se perguntaram isso e finalmente começaram a ler livros.
outros tantos não suportaram o pessímismo romântico e se suicidaram.
os poetas mortos agora mais vivos que nunca, se fingem de espertos
e tentam explicar.
outro tanto de gente viva, que se pensava estar mortos,
cantam e dançam sobre o cadáver da alegria.
e você?
(perde tempo com esse lixo)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
fiquei meia hora pensando num jeito
de fazê-la se apaixonar
não pensei e não aceito
que ela há de reclamar
mas num caso ou em outro
acabo fazendo feio
devo abordá-la depois,
talvez depois do recreio.
receio que as palavras
não me digam nem me falem
que essas sílabas jogadas
nada farão pra ajudar
e essa conquista louca,
menina moça, mulher
me deixa com os cabelos
e todos pêlos em pé
devo então ser nais maduro
e lutar pelo que quero
devo sim, ser mais seguro
fazer com bem mais esmero
(e então deverá acontecer)
a mais boboca das bobocas, a que eu mais gosto. Thayana Pinheiro, é pra ti =)
pensei bem em um amor,
tão difícil quanto a vida
que só não te traz a dor
que deveras já sentia
mas não se iluda consigo
de que podes desfrutar
deste amor, amor-amigo,
e se entregar sem lutar
o amor de vez em quando
prega peças na amizade,
e se transforma em um tanto
que coroa a vaidade
se quiseres um carinho
um carinho posso dar
mas até essa canção um dia há de acabar
e se da melhor maneira
eu pudesse terminar
por uma estranha perfeita
ainda hei de apaixonar.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
um soldado maroto e covarde
que vivia com um sorriso no rosto
e a arma na mão,
pisou numa mina
e foi conversar com Deus.
"dei meu braço esquerdo
em sangrenta batalha
e diversos cortes tenho pra mostrar,
sou sujeito homem,
sei matar tão bem
que acabei sendo perseguido por meus inimigos
e fui morto pelas costas numa emboscada."
era mentira, claro,
o soldado tinha se perdido do pelotão
em treinamento de guerra e descuidade que era
pisou numa mina falsa (ao menos achou que era)
e explodiu que só ele podia achar os pedaços.
mas envergonhado e na frente de Deus devia inventar coisas
mais heróicas e contou esta anedota.
"Deus não gosta de mentira, nem de guerras, meu filho"
e o soldado se desesperou,
tentou escapar de seu próprio destino.
mas já era tarde.
então, pesaroso,
Deus o mandou para o Diabo que o quisesse carregar,
na ponta do tridente
e ele foi.
pegou o elevador dos anjos
e saltou no andar de baixo.
o cheiro era incômodo e ouvia gritos,
mas tratou de se aprumar
e começou a achar tudo muito engraçado.
chegando aos infernos,
foi tirar satisfação.
e o sete pele foi logo lhe calando a boca:
''sou eu quem faz as perguntas,
meu querido soldadinho de chumbo,
vamos às anotações."
E o demônio começou a falar:
''mentiroso, patife, traidor,
canalha, medroso, maluco,
imprudente, dependente, descuidado
e ainda por cima covarde?''
"derrotado, sem dente,
sem braço, sem mulher
sem vida, sem arma,
se farda,
pelo amor de Deus, quer dizer, cof,
pelo meu amor, que fazes aqui?''
o soldado explicou tudo direitinho,
como havia lutado grandes guerras,
como havia sido vítima de emboscada,
sobre como dera o sangue pela pátria
e sobre todos os homens que matara sem dó.
Era mentira, é claro, como todos já sabem,
mas lá embaixo era diferente,
o do tridente, com lágrimas de orgulho nos olhos,
tratou de alocá-lo na suite presidencial com todo luxo.
e lá ele permaneceria junto dos seus,
aproveitando o sofrimento eterno.
injustia insana,
quê isso?
me algemaram em casa outro dia
e me levaram embora.
sem nem perceber
me trouxeram de volta.
sem nem perceber
minha mãe era morta,
sem nem entender
meu pai deu uma volta e eu fiquei.
injustiça insana,
quê isso?
me pegaram em casa e me bateram,
e eu nem pude defender o corpo.
sem ter pr'onde ir fiquei sem sorriso,
sem ter pr'onde ir
me chamaram de liso.
sem ser nem sorrir
já não tenho mais nada.
injustiça insana,
quê isso?
acordei em outro país outro dia,
e Che tá morendo do outro lado do mundo
que no fim não era mesmo Raimundo
e não pôde contar essa história,
desapareceu misteriosamente.
precisei pensar bastante
antes de escrever este.
pensava antes que a poesia
deveria ser certinha, robótica,
sem estilo e usando pijama de seda,
mas não.
pensei e pensei e pensei,
e aí então pensei de novo.
palavras viraram versos,
versos viraram estrófes,
estrófes viraram nada
e temos um poema ridículo,
uma metalinguagem forçada e sem uso,
de um escritor estúpido, talvez bêbado
e levemente impotente.
esse é o estilo em que me encontro.
forte, cheio de coragem e nenhum pijama.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
especialmente feito para Ana Carolina Rodrigues
ela pede versos como pede água,
ela tem às vezes, o sim e o nada,
e a dança nunca acaba em mágoa,
e os versos pedidos nunca dão em nada.
ela pede versos como quem tem vida,
um poema errado e uma estrófe não lida,
ela pede versos de alegria viva...
ela pede o amor como quem pede versos,
um poeta que se preze é deveras modesto
para não deixar um rosto tão risonho,
e de poema ele já não vive.
domingo, 24 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
daniel dargains.
escorro, não morro,
entrego, não nego,
que explodo-me todo
em vida me enterro
em culpa suprema,
a morte não tema
e todo castigo
é justo no caso
do acaso tremendo,
de imenso descaso
das leis lançadas
aos meus parentes,
sem dentes, os crentes
lidam com quem sente
que a verdadeira derrota
é viver vida torta
e pensar diferente.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Luiz Sérgio Espósito B. da Silva
essa farda é um fardo
de filhos furtados,
de casas quebradas
e moças casadas,
e forças fincadas
no medo e horror.
essa farda é um fardo,
meus filhos roubados,
felizes, vendados
de longe e de perto,
e a felicidade
é um mundo sem cor.
que horrores me trazem,
horror, já me calo,
e aperto meus olhos,
que veem, não falam,
pudera falassem,
seriam melhores,
testando maiores,
vivendo tão pobres
de imensa visão.
essa farda é um fardo,
os guerreiros fardados,
de farda e de vento à desesperação.
essa farda impotente,
marchando correntes
e usando do medo uma aliteração,
ainda tem esperança,
verdade, guerreiros,
que querem pro mundo uma melhor visão.
Vanessa Crumial H. de Andrade
eu vi o mundo cair,
caiu da orbita bem aqui,
eu tava passando e vi,
o mundo morrer e eu morrer de
rir.
eu vi o mundo chorar,
e então aumentaram as massas
de ar,
e enfim começou a melhorar.
no fim.
eu vi o mundo acabar,
e as cordilheiras virarem só pó,
e meu deserto há de alagar,
e nesse mundo hei de viver só.
[huuuum, começo a desconfiar!]
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Nathália Quinteiro de Sousa, é pra você e muitos outros que passaram por mim, e ainda passam, ao menos aqui dentro. obrigado.
sinto saudade de um verso
que enfim me faça pensar,
sinto saudade de um vento que
me leve ao lugar querido,
sinto saudade de uma vida inteira que podia ter sido,
se não tivesse acontecido nada.
sinto saudade de um verão lá fora,
sem ter aonde ir pra,
numa inversão divina
na qual eu pudesse estar.
sinto saudade de um ombro, um sorriso,
de vez em quando que saudade dá,
de uma vez que éramos amigos
e depois enfim, eu vim pra cá..
e você pra lá, e todos nós pra todos os lados,
estados, beijos maldados, mal dados,
quando a garganta dá um nó estrangulado
no terror de ser adulto.
sinto saudade de um verso
que me diga o que fazer,
passo a vida procurando, imerso
em solidão um porquê
e sem ter solução
posso apenas lamentar
que de amor não morro,
ai, que saudade que dá!
para todos que passaram por aqui,
minha vida não seria tão grande,
se igualmente parti,
ganhar novos horizontes,
se não estivessem perto,
aqui bem perto de mim,
eu não seria completo,
seria um verso sem fim.
e não entenderia o fim,
e não gostaria de estar,
onde esse coração manda
mas tem medo de acabar
sozinho,
um copo de vinho,
um terno de linho,
uma vida inteira.
o fim desse poema,
é minha saudade à beira
de um ataque de nervos,
em termos menos ermos,
eu posso afirmar.
não poderia enfim,
estar onde quero estar.
e se um dia me quiseres
sentaremos à entender.
e se um dia encontrares
me diga então o porque.
me diga para que possa dormir em paz.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
eu invento um romance inventando
a viagem,
inventando uns amantes e camas redondas,
vou criando uns dramas, problemas à margem,
então desviando o balanças das ondas.
eu invento um louvor ao
amor maior,
eu invento uma reza que eu já nem
sei mais,
eu saio de casa tendo tanta dó
de te esperar lá na beira do cais.
sabendo que nunca vai voltar pra'quele
que um dia te inventou um poema,
e termino esta carta dizendo
que meu amor já morreu de enfizema.
aos pouquinhos sufocando,
deveras enraizado
contudo já vou cantando
a dor de ser mal amado.
eu invento uma briga pra justificar
todos os problemas que tenho contigo,
eis, porém o ruim de inventar,
não consegui inventar um abrigo.
[que me abrigasse o amar, o amor,
que não me negasse a amizade,
e nessa confusão de sentimentos, dor
a vontade de escrever me invade]
o poema terminou há muito tempo antes
dessas estrófes mal escritas, sim,
mas não me culpo, ainda que não cantes,
sei que ainda sentes o calor por mim,
que te sobes do pé de vento,
até o cabo das tormentas.
(não adianta mais negar,
que ainda te faço soltar fogo pelas ventas)
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Thaisa Montenegro, pra você.
hoje eu me sinto melhor que amanhã,
ontem me senti melhor de manhã,
amanhã adentrarei uma loucura vã,
e nada vai me fazer sair dela.
na semana passada me senti melhor,
o tempo andando pra trás,
a respiração dando um nó
e ela me deixou querendo mais.
mês passado eu me perguntava:
''como seria o dia de amanhã?''
e então você, cantando, entrava
e dizia que eu tinha uma febre terçã.
''Meu querido, não há essa coisa de futuro,
tente viver o saudoso,
acredite no obscuro
não se crie no temeroso''
de tanto divagar, ano passado perdi a cabeça,
espero que eu arrume alguém
e que meu cabelo cresça!
mas se nada adiantar,
saiba que há dez anos era nada.
eu era um coração partido
e uma porta fechada,
era um minuto perdido,
e uma camisa rasgada.
eu era uma poesia quebrada.
e amanhã?
o amanhã é a razão da loucura,
crescendo com o dia a dia
a palavra é minha cura.
Presente de grego
imagine um cavalo,
madeira gigante,
inventam um monte
de coisas pra dizer.
inventam que é morte,
inventam má sorte,
somente mais um poste a queimar.
o povo da vila,
quando vê a coisa,
imagina comida?
comida não enche barriga,
se for de madeira, não é mamadeira
e a criancinha não se alimenta.
mas de que adianta se a água barrenta
termina o serviço que o cavalo entrega.
se o povo de Tróia soubesse,
que essa miséria agrega o pesar da guerra.
o rei lhes daria mais terra,
o rei também erra
e precisa pensar.
então ele põe o cavalo pra dentro.
e a guerra há de terminar,
e o rei cansado,
quebrado as pernas e os orgulhos,
todos fulos
pois a comida há de acabar.
e mais um dia se tem pra chorar.
a moral é que um cavalo não resolve nada,
ainda que de madeira,
não vira mamadeira
e dele ninguém se alimenta.
mas se os gregos tivessem mandado,
comida e remédio?
o resto a gente inventa.
e não tem mais nada pra falar.
rima.
rimo de todo,
rimo de nada,
rimo até lodo
com vista cansada.
a rima dos tolos
depende de só
uma rima dos bobos,
querem só o pó
poesia, poesada,
poesema, poetisa,
nessa poesia quebrada
um verso me alisa os cabelos?
elos, belos, cegos, egos
de que me vale uma rima sem
dor?
de que mais vale um verso sem amor?
e quem me entende se nem o terror
é capaz de me tirar da cama,
um drama pra quem ama,
um poema pra quem pena,
e não consegue levantar.
e com um infinitivo posso finalmente terminar...
a rima está pra começar!
quanta sombra, hein!
se esconde em mim,
em você e neles.
é tanta sombra que o que se mostra
além dos campos verdes,
é o mesmo do mesmo de
antes,
ou seja nada muda.
na escuridão,
é o dito pelo não dito.
quem há de descobrir
que poesias outrora tão ritmadas
e rimadas,
ricas e mimadas
pudessem criar tantos
versos e frases mal acabadas?
é o poder da escuridão,
só. mais nada.
é hora de apagar a luz.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Engasgo.
me calo, feridas na boca,
destruo pensamentos,
não posso expressar
aquilo que vejo.
Choro.
a dor,
o mundo agora sem cor,
não posso falar,
doença não deixa,
me deixa! eu digo,
e nada.
As palavras são como a vida
inteira,
centelhas de medo e horror...
as falas são concluídas com problemas,
como posso viver?
como posso eu viver,
sem fazer aquilo que fui feito para?
como posso eu seguir em frente,
com os pés amarrados nas costas,
tendo que me arrastar através da ignorância,
coisa triste é o calar,
sempre me falam isso,
entendem eles o que passo?
não.
Claro que não,
mas quem poderia?
eu sou o que sou,
sem as palavras não sei,
com elas me entendo,
sem elas, não sei,
ou sei e não posso dizer.
Quem sou eu afinal?
quem seria se a doença não me
consumisse?
o sangue sai na saliva,
salivada de simples e simplórios
sempres e nem sempres.
Rotina.
Calo-me.
quem me ajuda?
me estenda a mão e faça.
Ou não faça e fale.
Ou não fale e escute.
Mas eu não posso falar.
Quem sou eu afinal?
palavras ao vento,
tremendo de medo de não mais voltar.
Sou Augusto dos Anjos,
sangrento exponencial da alma pútrida,
sentado em um mar de esgoto transitório.
Sou Mário de Andrade,
arrancando árvores,
fragmentando as aves
e valorizando capoeiristas.
Sou Drummond de Andrade,
com seu 'sou confuso' mas sou consagrado,
me entende quem quer e não sou demócrático
sou hermético, porém 'que se dane'.
Sou morto de fome,
fome de intenções,
de ilusões,
de armações perdidas,
do fundo da alma
de canções vazias,
quando as palavras não ousam voar.
Tentar-me-ia delimitar,
mas sou oblíquo cônico,
intenso arredio.
"Que isso, que isso?!
desculpe a franqueza, mas cale-se de uma vez,
pois há horas que parecem anos,
reclama de estar doente e cansado,
mas as palavras fogem de ti e ameaçam a todos
nós.
Diz-se de uma vez, calado
e não pára de falar.
o quê que há?"
"não me leve a mal, é que me expressei mal,
não seja tão mau de não me achar normal...
sou um unânime anônimo.
tenha um bom dia."
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
não suma com o vento,
vento intenso de vidas marcadas,
tantas certezas de transas quebradas,
o quebrar das ondas, de tantas amadas
que tive de tanto me afastar de ti.
não suma com a vida,
o vento segura, querendo soprar,
me falam de coisas, entendo o amar,
de vidas marcadas o infinito entrar
e sair de transas quebradas.
e que fosse agora ou depois
de você,
querendo e querendo cantar, não morrer,
que rimas infinitas,
de infinito querer,
tantos infinitivos não me fazem crescer.
e de amor não me mexo,
com o vento de lágrimas,
essas gotas marcadas de sangue e de dor...
cada vez que te vejo, descubro um desejo,
estranho lampejo de viver o amor.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
sábado, 18 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
quando um conto entra,
um tanto quanto tenta,
entrar em tanto conto
de contar tudinho,
ser pequenininho
e desaparecer.
tanto quanto volta,
volta a ser um conto,
conto de outros contos,
ponto de outros tantos
também aumentados.
quando aumenta um conto,
quem conta esse ponto
de aumentar um conto
e contar o tanto,
de alegrar o sonho e dizer adeus.