quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

sexo gramatical

transo as palavras,
uma após a outra.
um fio de náilon,
macio,
esticado,
a poesia nasce do sexo linguístico,
a transa poética,
a sujeira mesquinha.
palavras transadas,
trocadas,
jogadas,
usadas e reaproveitadas.
a poesia nasce também do lixo,
da perturbação, da dor,
dor de viver e
a dor de amar.
quando transo as palavras
elas gemem de prazer,
entrelaçando,
combinando,
que ferocidade!
o poema range os dentes para quem escreve,
é vida própria, inteligente,
aflitiva,
foge do papel e vai ganhar o coração de alguém.

leia um poema.
se não se emocionar
garanto que enfio uma faca no peito
e ainda hoje deixo este mundo.

a palavra é sensual,
mas só o poema é sexual,
voluptuoso,
libidinoso,
impuro,
escuro,
em cima do muro.
poema é um dia inteiro na cama
gritando sem ninguém ouvir,
você e seu amor,
sem pudor,
com vigor,
com dor,
uma flor.
flor no cabelo da menina
e sentimento sendo explorado.

escrever é bom,
a melhor coisa do mundo,
mas eu não escrevo,
eu transo palavras,
e essa sensação você ainda não conhece,
estremece de me ver transar,
palavras ao vento você pode jogar,
mas só eu vou dizer pra onde vai cada coisa
e ela encaixa em perfeição.

sabe o que é isso?
não?

então continua escrevendo
se isso dá sentido à sua vida medíocre
e morra poeticamente virgem.

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