segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ausência

Engasgo.
me calo, feridas na boca,
destruo pensamentos,
não posso expressar
aquilo que vejo.

Choro.
a dor,
o mundo agora sem cor,
não posso falar,
doença não deixa,
me deixa! eu digo,
e nada.

As palavras são como a vida
inteira,
centelhas de medo e horror...
as falas são concluídas com problemas,
como posso viver?

como posso eu viver,
sem fazer aquilo que fui feito para?
como posso eu seguir em frente,
com os pés amarrados nas costas,
tendo que me arrastar através da ignorância,
coisa triste é o calar,
sempre me falam isso,
entendem eles o que passo?

não.
Claro que não,
mas quem poderia?
eu sou o que sou,
sem as palavras não sei,
com elas me entendo,
sem elas, não sei,
ou sei e não posso dizer.

Quem sou eu afinal?
quem seria se a doença não me
consumisse?
o sangue sai na saliva,
salivada de simples e simplórios
sempres e nem sempres.

Rotina.
Calo-me.
quem me ajuda?
me estenda a mão e faça.

Ou não faça e fale.
Ou não fale e escute.

Mas eu não posso falar.

Quem sou eu afinal?
palavras ao vento,
tremendo de medo de não mais voltar.

Sou Augusto dos Anjos,
sangrento exponencial da alma pútrida,
sentado em um mar de esgoto transitório.

Sou Mário de Andrade,
arrancando árvores,
fragmentando as aves
e valorizando capoeiristas.

Sou Drummond de Andrade,
com seu 'sou confuso' mas sou consagrado,
me entende quem quer e não sou demócrático
sou hermético, porém 'que se dane'.

Sou morto de fome,
fome de intenções,
de ilusões,
de armações perdidas,
do fundo da alma
de canções vazias,
quando as palavras não ousam voar.

Tentar-me-ia delimitar,
mas sou oblíquo cônico,
intenso arredio.

"Que isso, que isso?!

desculpe a franqueza, mas cale-se de uma vez,
pois há horas que parecem anos,
reclama de estar doente e cansado,
mas as palavras fogem de ti e ameaçam a todos
nós.
Diz-se de uma vez, calado
e não pára de falar.
o quê que há?"

"não me leve a mal, é que me expressei mal,
não seja tão mau de não me achar normal...

sou um unânime anônimo.

tenha um bom dia."

2 comentários:

  1. Carambaaaaaaa, tanto tempo que não vinha aqui
    e agora quando venho dou de cara com esse post que por sinal é muito muito muito bom. Lendo ele vão se tendo varios pensamentos que vão mudando e acompanhando a leitura, gostei das citações e de tudo, alias.. todos os seus posts são ótimos!

    Beijoo ;*

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  2. Muito bom! Nunca fui muito fã de poesias sem muita rima , mas os seus textos são realmente bons, tony!

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