Para os maiores guerreiros que já conheci, Antônio Luiz e Rosângela, obrigado.
já esperando o pior,
cansaço,
fome,
briga,
ferro quente descendo no tubo,
e a fornalha esquentando tudo,
perigoso trabalho de subsistência.
Ele precisa daquilo,
não há mais ninguém por ele,
mas ele não vive sozinho,
vive só, mas com tantos,
dentro da cabeça um monte,
operário também sonha,
trabalhador também pensa,
embora pra ele
só exista a enxada,
o bravo guerreiro que aguarda a sineta tocar,
começar o suplício de ir trabalhar.
O operário almeja uma coisa,
lá longe no horizonte,
de pé, erguido
em fé cega de pobre homem,
não tem onde segurar.
Segura no imoldável,
no não acabável,
no sintético.
O operário sai da fábrica
após a oitava sineta,
necessita do dinheiro que a hora extra lhe dá.
O barraco sujo, ter pra onde voltar,
a venda nos olhos
para não se ver gritar,
a fraqueza nas pernas,
um ode ao sofrimento
do trabalhador brasileiro.
Na porta da fábrica ele cai,
ali mesmo, sem nome,
renome,
nem eu mesmo sei quem é.
É o operário, tantos
que já vi passar por aqui de automóvel.
Isso tem aos montes,
mais um que não aguentou
a falta de tudo que não o liberta.
A falta de vida,
digna falta de amor,
coração amargurado e parando de bater.
O operário tinha sonhos
que ninguém agora tem conhecimento.
É anônimo assim como sua alma,
pura e ao mesmo tempo turva
da poeira das máquinas.
Posso eu julgar?
Nunca.
É digno de pena
ou digno de respeito?
Pensei melhor e saio
do dilema com a conclusão.
O trabalhador operário,
caído há mais de quarenta minutos
sem ninguém saber,
é o retrato brasileiro do povo
que luta por alguma coisa,
sem nem saber o que é.
O dono da fábrica,
capitalista fervoroso,
magnata, pensa:
''bom, amanhã eu contrato outro
vagabundo pela metade do preço''
e a vida não tem mais sentido.
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