quarta-feira, 30 de junho de 2010

Proletário Empoeirado

Para os maiores guerreiros que já conheci, Antônio Luiz e Rosângela, obrigado.

O operário entra na fábrica
já esperando o pior,
cansaço,
fome,
briga,
ferro quente descendo no tubo,
e a fornalha esquentando tudo,
perigoso trabalho de subsistência.

Ele precisa daquilo,
não há mais ninguém por ele,
mas ele não vive sozinho,
vive só, mas com tantos,
dentro da cabeça um monte,
operário também sonha,
trabalhador também pensa,
embora pra ele
só exista a enxada,
o bravo guerreiro que aguarda a sineta tocar,
começar o suplício de ir trabalhar.

O operário almeja uma coisa,
lá longe no horizonte,
de pé, erguido
em fé cega de pobre homem,
não tem onde segurar.
Segura no imoldável,
no não acabável,
no sintético.

O operário sai da fábrica
após a oitava sineta,
necessita do dinheiro que a hora extra lhe dá.
O barraco sujo, ter pra onde voltar,
a venda nos olhos
para não se ver gritar,
a fraqueza nas pernas,
um ode ao sofrimento
do trabalhador brasileiro.

Na porta da fábrica ele cai,
ali mesmo, sem nome,
renome,
nem eu mesmo sei quem é.
É o operário, tantos
que já vi passar por aqui de automóvel.
Isso tem aos montes,
mais um que não aguentou
a falta de tudo que não o liberta.
A falta de vida,
digna falta de amor,
coração amargurado e parando de bater.

O operário tinha sonhos
que ninguém agora tem conhecimento.
É anônimo assim como sua alma,
pura e ao mesmo tempo turva
da poeira das máquinas.

Posso eu julgar?

Nunca.

É digno de pena
ou digno de respeito?

Pensei melhor e saio
do dilema com a conclusão.

O trabalhador operário,
caído há mais de quarenta minutos
sem ninguém saber,
é o retrato brasileiro do povo
que luta por alguma coisa,
sem nem saber o que é.

O dono da fábrica,
capitalista fervoroso,
magnata, pensa:

''bom, amanhã eu contrato outro
vagabundo pela metade do preço''

e a vida não tem mais sentido.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A morte do poeta

Oi,
eu sou um poeta.
se você lê isso é porque eu já morri.
procurei ser eu mesmo e externalizar sentimentos
da melhor maneira possível.
tive uma vida feliz,
mulher,
filhos,
mas dia desses encontrei em minha cabeceira
uma folha em branco,
o paraíso para quem escreve,
fácil que só vendo de pegar uma caneta e deixar sair o verso.
ele não saiu,
e aqui estou.

Não volto,
não quero.

As estórias do bonde de Sta.Teresa

o movimento do bonde incomoda as meninas
donzelas, vadias, de bolsa na mão,
o guerreiro tardio, empregado aguerrido
querendo saber o que temos na mão,
a favela inteira, o negrinho, a rameira,
a beleza do Rio de Janeiro em vão,
todo mundo atrasado, o bonde lotado,
vai saindo a beça, gente do vagão.

E esse sofrimento, ritmo intenso,
querendo e querendo ter só um irmão,
e ninguém aparece, o bem se esquece,
que o mal impede o amor de verão,
e a vida levada, surpresas arcadas
com esse suor, e o sangue derrama
e o cansaço inflama o pé da mulata,
e essa negritude, querendo cantar,
arrumou um lugar, pra de fato expressar
essa consciencia, tantas diferenças,
e o fato de apenas não ter mais as crenças
que um dia tentou ensinar.

E que época fria,
certezas tão minhas,
dentro do vagão,
de arma na mão,
me entrou um calango
e saiu atirando,
acertou o operário e depois foi vazar.
a polícia entrou gritando e fez o serviço
que não vai voltar,
entrou também atirando,
um após o outro, depois foi pro bar.

O suspeito cansado,
de tanto atirar,
molhou a goela naquele pé sujo.
Imundos defuntos agora tão mortos
quanto em vida aparentavam estar.
encontrou a polícia do lado de lá,
que suspeito nenhum haveria de encontrar,
ficaram amigos, pagaram bebidas
e a impunidade reinou, reinará,
até que o bonde pare de funcionar,
e a alegria do povo não tenha mais fim,
mesmo com problemas sorrisos sem fim,
e dentro dos sonhos,
terrenos tão loucos,
aquele bonde apareça pra mim.

O bondinho não existe mais,
poemas rimados não se fazem mais,
e os ritmados, cansados, sem paz,
não querem nunca sair mais,
nunca mais sair
dessa mesma tristeza,
na qual o poeta mergulha as palavras,
infames, ingratas querendo acabar.
O metrô, o taxi, o ônibus,
cheios de pessoas querendo chegar,
à alguma altura da vida,
na qual nem todos conseguem estar.

E se a polícia aparecer?
e se um calango quiser virar macho?
nesse pau de ferro ou peixeira cantar,
mais fácil cantar pra subir pro inferno.
E nesse poema sem fim,
retrato minha indignidade,
indignação dessas meias verdades,
de sempre encontrar o talento nas piores mentes,
nas piores mentes que a jogam no chão.

Tudo que eu queria era ser carioca em paz e crente
chego à mais uma estação.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Humor

Era uma vez uma piada,
ela era muito engraçada,
quando passava na rua
as pessoas riam de verdade.

Rolavam, sentavam,
socavam o chão.

Era um grande sacada,
a piada inteligente,
tirava mais daquela gente
que a risada só, comum.

Mas um dia a piada olhou no espelho
e nem esboçou um sorriso,
não entendia a própria piada,
nem onde ficava tanta graça.

Com toda aquela tristeza,
resolveu tirar a própria vida,
se cortou toda em ferida,
que aberta escorreu.

E dela saiu o português,
a loira burra,
o viadinho,
o papagaio,
e todas as coisas que eram famosas e queridas
na piada em questão.
agora que as palavras caiam no chão,
a graça, que graça tinha?
ela até que enfim reparou
que era até um tanto engraçada,
mas agora ia acabando
os versos diminuindo
e as risadas sumindo
da piadinha guerreira que era,
e não conseguia se achar.

Quando ela foi se juntar,
descobriu e de salto exclamou:

'Caramba, meu Deus,
contadores de piadas me ajudem!
acabei virando um soneto,
mais vagabundo que tinha, impossível,
falando de amor assim,
tanta métrica sem graça,
como caí em desgraça, sem nem ter escorregado
na gramática?'

Coitadinha da piada, estava agora sem remédio,
tentou foi se remoldar.
se cortou toda, tentando tirar a vida,
que o próprio sonetinho já tentara lhe tirar.

e aí foi caindo o amor, a donzela,
a marquise, o violino e a musiquinha,
e ela agora foi então desesperar.

Coitadinha da piada, estava agora pra acabar,
depois de perder a graça,
e o respeito da massa,
a verdade absoluta
só o título a mostrar.

e nem tinha tanta graça,
o danado lá no alto,
já não nos dizia nada
que coubesse comentar.

dizia 'Humor' assim, sem graça,
e a parte mais engraçada
ainda tenho que inventar.

Poesia do Sono

Resolvi ficar bem acordado,
esperando o verso sair.
Era como se cansado
pudesse ver pra onde ir.

Mas era tanto o meu sono,
que na calada da noite,
eu me perguntava, como?
como pode esse açoite,
virar dor de olho aberto,
mesmo nem por um decreto
o danado há de vir.

E eu só de pirraça,
vou fechando o olho
e a consciência em si.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Papel

A folha de papel em branco,
é um pouco interessante,
intrigante ver o quanto sabe
o papel branco em folha nua,
pesquisa, menino, pesquisa!
e a folha vai se enchendo toda.

A tinta preta vai se desenhando,
todo mundo se maravilhando,
o quanto mais conhecimento
a folha há de aguentar?

todo e qualquer pensamento
ela há de escrever,
mas quanto mais do menino
a folha há de sugar?

que falta de cabeça do menino,
agora, entregar-se todo de uma vez,
e lá vai a folha de novo,
querendo se fazer de esperta,
pega o menino, espreme o menino,
e o encanta com a capacidade de ver
o menino por dentro,
e pegar de lá também.

Mas espera aí, menino!
tem um rabisco ali,
alguma falha na folha,
o que há de se fazer?

a folha agora já não serve mais,
toda escrita ela vai pro lixo,
amassada, rasgada, esquecida,
a alma e a essência do menino.

sábado, 19 de junho de 2010

Os dogmas,a doença,a morte,o inferno,o ato de se conhecer e o julgar

O espaço para escrever era pequeno,
o quarto também.

A sua vida era medíocre,
a poesia também.

Tentava ser o que não era,ser aceito,
o homem também.

Fazia tempo que não chorava,
os ditadores também.

Queria tudo a seu favor,
os políticos também.

Favorecia a morte,seja lá que forma fosse,
o crime também.

A garganta era pequena,
o ar também.

Ele olhou em volta,
a morte também.

Não viu ninguém,
e nem precisava.

tinha a vida dele nas mãos,
o suor calado de alguém sufocando,
e ele em si também calado.

A morte sorriu,triunfante,
e ele não.

Tinha desaprendido a sorrir,
e naquele momento em particular,
só lhe deu mesmo vontade de acabar com tudo.

Vagando ele foi aos infernos,
e lá encontrou criminosos,ditadores,políticos.

E também ele próprio.

Esperou se conhecer,para só então poder julgar.
Sou melhor que qualquer um?
Você é?
Quem será?

Espere a morte chegar.

Tanta dor,tanto amor,
perdi,enfim,o meu glamour.
Sempre que podia me lembrava disso tudo,
mas agora não mais quero pensar,
quero mesmo é sentir.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Matizes

Os cabelos negros, a mata verde,
o balanço do barquinho no rio revolto,
a vida de repente ganha gosto
e o sabor de ser livre que era tão inédito,
é agora sentido com clareza no regozijo.

As pedras brancas,
a vida inteira,
poderia contemplar-te à toda prova?
o tempo não me deixa lembrar
aquilo que a própria paisagem
não me deixa esquecer.

Pra que?

Estar aqui, obviamente,
me traz a espiral de sentimento,
que nem no melhor momento
um dia pensei sonhar.

Cada vez mais penso em te dizer,
que a beleza do lugar
nada tinha a oferecer,
pois tua própria beleza,
superou a natureza
e ofuscou o luar.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Poesia da Chatice

Era uma vez um poema, chato,
ele era meio confuso, atolado,
pouco popular entre os outro poemas
menos chatos.

Ele era tão chato, mas tão chato, mas tão chato,
mas tão chato,
que ninguém queria ficar perto dele.

Enfim, ele era bem chato.

Mas um belo dia, resolveu perguntar:

"Meu Deus, porque me fizeste tão chato?
o que foi que fiz a Você?
será que cometi um crime contra a literatura?
fiz alguma besteira?
Por que, meu Deus, por que?
eu só queria...''

"Cale-se, jovem poema chato,
está me dando nos nervos,
já lhe disseram que vossa chatice assusta
e nos faz querer arrancar os cabelos?''

Ele não entendia nada ainda,
e ficava se perguntando como podia ser tão chato assim...

e se questionava ainda mais,
como podia o caro poeta
escrevê-lo tão insuportavelmente chato assim,
e como pudera perder seu precioso tempo
neste poema sem fim,
e ainda por cima tão chato.

O poeta um tanto irritado, resolveu responder.
Então escreveu para o narrador dizer,
transmitindo essa mensagem:

"Caro poema desgraçado de escutar,
cale-se de uma vez,
eu escrevi o começo,
tu roubaste minha caneta tinteiro
e resolveste ser chato por tua conta,
e me desesperar.
Não tenho culpa que não está
onde deveria estar".

O poema se assustou, disse uma vez o poeta,
e aí, o que aconteceu?
Nada.
O poema rebelde e tão chato,
se rabiscou todo com o desprezo de seu dono
e resolveu acabar com as próprias palavras.
O poeta chorou?

É claro que não!
Aliviou-se, e começou a escrever
um outro poema,
que dizia mais ou menos assim:

Era uma vez um poema chato,
meio confuso, atolado,
pouco popular entre os outros poemas
menos...chatos.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mistério

Quando eu conheci não sabia bem o que era,
estava confuso mas estava intenso,
aquilo que estava tão longe
levava lá dentro a dúvida em mim.

Que duvida é essa, e a vida desaba,
curiosidade estranha, saudável,
ao mesmo tempo que viva?!
e como viva, sequer tem vida!

Me movimenta,
me faz querer entender,
e nem assim consigo perceber,
o vazio de mim, manifesta em você,
e que engano meu em imaginar,
que até um poema poderia dar-te,
nunca soube nunca, fazer tanta arte,
para impressionar alguém.

O melhor é simplesmente ter,
sem ao menos olhar,
ter medo, ter tanta dor,
imagino lá dentro,
no fundo
no...
fundo...
que o mistério é só mais uma palavra que assusta,
mas que nada significa,
aliás significa.

[que você deve enfrentar pra conhecer,
e as vezer perguntar porque].


terça-feira, 8 de junho de 2010

Geometria Descritiva

símbolo, símbolo, símbolo...
carimbo de formas geométricas.
que formas estranhas e interessantes.
que poema horrível e horripilante.
que rimas sinceras e pouco rimadas,
ritmadas e timbradas, casas,
elementos de ventos de embarcações,
de balanço de memória de história,
de fim, até que enfim, digamos sim ou não,
e abriremos mão de outro poema.

Irrelevante

Me sinto um palhaço escrevendo essas coisas,
sem sentido, símbolos, coisas que eu nem sei.
apenas escrevo e transcrevo,
e tudo se vai comigo ao vento de paz.

Esse é um poema alegre,
garanto a vocês,
tentar escrever milagres
não põe comida na mesa.

A realidade é dura,
e é o que se pode fazer,
não quero nem mais porque.

Gente.

Gente como a gente,
gente sozinha, carente,
gente estranha, sem dente,
gente sofrida, doente.

Me disseram que essa gente,
que era tão pouco ardente,
arrumando-se, contente,
esperando pela gente,
que a gente desconhece.

Essa gente deprimida,
de tanto se achar perdida,
se achou menos gente
porque tinha de esperar.

Essa gente, gente doida,
com a palavra entre os dentes,
foi um dia achar motivo
de não mais se envergonhar;
perguntando à essa gente,
quando o chamado ''indigente''
finalmente ia acabar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Nascimento da Gramatica

Poesia estúpida e violenta,
que loucura é essa que estou a ouvir?
grosseria, ironia, me faz rir,
tua cara estranha, flor desabrochando podre e sem cheiro,
laços rompendo, caixas vazias, de fato, sem ter o que esconder,
depressão, o amargo, ou nem coisas boas encontrava ali, se pudesse faria um desenho
da desesperança ou qualquer coisa assim, despudorado.

O que é isso afinal?
a personificação do terror de estar só,
é um estranho no ninho querendo sair,
coberto de um ser feto, ser ferido, sujo,
medonha existência da própria cabeça abrindo
e despejando o liquido negro do sem ter conhecimento.

Escrever não é um dom, qualquer um pode fazer,
lixo,
escrita sem brilho, poesia infâme, tremenda falta de tudo.

Cale a boca e desapareça da minha frente,
a minha palavra é muito substantiva pra sua falta de adjetivo que o qualifique
como algo mais que um adjunto,
você, meu caro,
é potencialmente fraco e subordinado à meus lexicos sem sentido.

domingo, 6 de junho de 2010

Moça.

Menina moça no olhar, na malícia,
menina nova sem medo e pudor,
moveria teus medos de mim para que pudesse enfim estar?
Menina de olhos intensos, perfurantes de alegria e dor,
o paradoxo de teus demônios, fazem os meus enlouquecerem.

Quem és afinal?
Seria só um anjo transitando, devotada a coisa alguma,
querendo sangue?
Quem sou afinal?
estaria disposto a amar-te como a mim mesmo?

Não.
Não contentar-te-ia com tão pouco.

só podia ser pra ela. Paula, esse é seu.