terça-feira, 26 de outubro de 2010
especialmente feito para Ana Carolina Rodrigues
ela pede versos como pede água,
ela tem às vezes, o sim e o nada,
e a dança nunca acaba em mágoa,
e os versos pedidos nunca dão em nada.
ela pede versos como quem tem vida,
um poema errado e uma estrófe não lida,
ela pede versos de alegria viva...
ela pede o amor como quem pede versos,
um poeta que se preze é deveras modesto
para não deixar um rosto tão risonho,
e de poema ele já não vive.
domingo, 24 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
daniel dargains.
escorro, não morro,
entrego, não nego,
que explodo-me todo
em vida me enterro
em culpa suprema,
a morte não tema
e todo castigo
é justo no caso
do acaso tremendo,
de imenso descaso
das leis lançadas
aos meus parentes,
sem dentes, os crentes
lidam com quem sente
que a verdadeira derrota
é viver vida torta
e pensar diferente.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Luiz Sérgio Espósito B. da Silva
essa farda é um fardo
de filhos furtados,
de casas quebradas
e moças casadas,
e forças fincadas
no medo e horror.
essa farda é um fardo,
meus filhos roubados,
felizes, vendados
de longe e de perto,
e a felicidade
é um mundo sem cor.
que horrores me trazem,
horror, já me calo,
e aperto meus olhos,
que veem, não falam,
pudera falassem,
seriam melhores,
testando maiores,
vivendo tão pobres
de imensa visão.
essa farda é um fardo,
os guerreiros fardados,
de farda e de vento à desesperação.
essa farda impotente,
marchando correntes
e usando do medo uma aliteração,
ainda tem esperança,
verdade, guerreiros,
que querem pro mundo uma melhor visão.
Vanessa Crumial H. de Andrade
eu vi o mundo cair,
caiu da orbita bem aqui,
eu tava passando e vi,
o mundo morrer e eu morrer de
rir.
eu vi o mundo chorar,
e então aumentaram as massas
de ar,
e enfim começou a melhorar.
no fim.
eu vi o mundo acabar,
e as cordilheiras virarem só pó,
e meu deserto há de alagar,
e nesse mundo hei de viver só.
[huuuum, começo a desconfiar!]
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Nathália Quinteiro de Sousa, é pra você e muitos outros que passaram por mim, e ainda passam, ao menos aqui dentro. obrigado.
sinto saudade de um verso
que enfim me faça pensar,
sinto saudade de um vento que
me leve ao lugar querido,
sinto saudade de uma vida inteira que podia ter sido,
se não tivesse acontecido nada.
sinto saudade de um verão lá fora,
sem ter aonde ir pra,
numa inversão divina
na qual eu pudesse estar.
sinto saudade de um ombro, um sorriso,
de vez em quando que saudade dá,
de uma vez que éramos amigos
e depois enfim, eu vim pra cá..
e você pra lá, e todos nós pra todos os lados,
estados, beijos maldados, mal dados,
quando a garganta dá um nó estrangulado
no terror de ser adulto.
sinto saudade de um verso
que me diga o que fazer,
passo a vida procurando, imerso
em solidão um porquê
e sem ter solução
posso apenas lamentar
que de amor não morro,
ai, que saudade que dá!
para todos que passaram por aqui,
minha vida não seria tão grande,
se igualmente parti,
ganhar novos horizontes,
se não estivessem perto,
aqui bem perto de mim,
eu não seria completo,
seria um verso sem fim.
e não entenderia o fim,
e não gostaria de estar,
onde esse coração manda
mas tem medo de acabar
sozinho,
um copo de vinho,
um terno de linho,
uma vida inteira.
o fim desse poema,
é minha saudade à beira
de um ataque de nervos,
em termos menos ermos,
eu posso afirmar.
não poderia enfim,
estar onde quero estar.
e se um dia me quiseres
sentaremos à entender.
e se um dia encontrares
me diga então o porque.
me diga para que possa dormir em paz.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
eu invento um romance inventando
a viagem,
inventando uns amantes e camas redondas,
vou criando uns dramas, problemas à margem,
então desviando o balanças das ondas.
eu invento um louvor ao
amor maior,
eu invento uma reza que eu já nem
sei mais,
eu saio de casa tendo tanta dó
de te esperar lá na beira do cais.
sabendo que nunca vai voltar pra'quele
que um dia te inventou um poema,
e termino esta carta dizendo
que meu amor já morreu de enfizema.
aos pouquinhos sufocando,
deveras enraizado
contudo já vou cantando
a dor de ser mal amado.
eu invento uma briga pra justificar
todos os problemas que tenho contigo,
eis, porém o ruim de inventar,
não consegui inventar um abrigo.
[que me abrigasse o amar, o amor,
que não me negasse a amizade,
e nessa confusão de sentimentos, dor
a vontade de escrever me invade]
o poema terminou há muito tempo antes
dessas estrófes mal escritas, sim,
mas não me culpo, ainda que não cantes,
sei que ainda sentes o calor por mim,
que te sobes do pé de vento,
até o cabo das tormentas.
(não adianta mais negar,
que ainda te faço soltar fogo pelas ventas)
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Thaisa Montenegro, pra você.
hoje eu me sinto melhor que amanhã,
ontem me senti melhor de manhã,
amanhã adentrarei uma loucura vã,
e nada vai me fazer sair dela.
na semana passada me senti melhor,
o tempo andando pra trás,
a respiração dando um nó
e ela me deixou querendo mais.
mês passado eu me perguntava:
''como seria o dia de amanhã?''
e então você, cantando, entrava
e dizia que eu tinha uma febre terçã.
''Meu querido, não há essa coisa de futuro,
tente viver o saudoso,
acredite no obscuro
não se crie no temeroso''
de tanto divagar, ano passado perdi a cabeça,
espero que eu arrume alguém
e que meu cabelo cresça!
mas se nada adiantar,
saiba que há dez anos era nada.
eu era um coração partido
e uma porta fechada,
era um minuto perdido,
e uma camisa rasgada.
eu era uma poesia quebrada.
e amanhã?
o amanhã é a razão da loucura,
crescendo com o dia a dia
a palavra é minha cura.
Presente de grego
imagine um cavalo,
madeira gigante,
inventam um monte
de coisas pra dizer.
inventam que é morte,
inventam má sorte,
somente mais um poste a queimar.
o povo da vila,
quando vê a coisa,
imagina comida?
comida não enche barriga,
se for de madeira, não é mamadeira
e a criancinha não se alimenta.
mas de que adianta se a água barrenta
termina o serviço que o cavalo entrega.
se o povo de Tróia soubesse,
que essa miséria agrega o pesar da guerra.
o rei lhes daria mais terra,
o rei também erra
e precisa pensar.
então ele põe o cavalo pra dentro.
e a guerra há de terminar,
e o rei cansado,
quebrado as pernas e os orgulhos,
todos fulos
pois a comida há de acabar.
e mais um dia se tem pra chorar.
a moral é que um cavalo não resolve nada,
ainda que de madeira,
não vira mamadeira
e dele ninguém se alimenta.
mas se os gregos tivessem mandado,
comida e remédio?
o resto a gente inventa.
e não tem mais nada pra falar.
rima.
rimo de todo,
rimo de nada,
rimo até lodo
com vista cansada.
a rima dos tolos
depende de só
uma rima dos bobos,
querem só o pó
poesia, poesada,
poesema, poetisa,
nessa poesia quebrada
um verso me alisa os cabelos?
elos, belos, cegos, egos
de que me vale uma rima sem
dor?
de que mais vale um verso sem amor?
e quem me entende se nem o terror
é capaz de me tirar da cama,
um drama pra quem ama,
um poema pra quem pena,
e não consegue levantar.
e com um infinitivo posso finalmente terminar...
a rima está pra começar!
quanta sombra, hein!
se esconde em mim,
em você e neles.
é tanta sombra que o que se mostra
além dos campos verdes,
é o mesmo do mesmo de
antes,
ou seja nada muda.
na escuridão,
é o dito pelo não dito.
quem há de descobrir
que poesias outrora tão ritmadas
e rimadas,
ricas e mimadas
pudessem criar tantos
versos e frases mal acabadas?
é o poder da escuridão,
só. mais nada.
é hora de apagar a luz.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Engasgo.
me calo, feridas na boca,
destruo pensamentos,
não posso expressar
aquilo que vejo.
Choro.
a dor,
o mundo agora sem cor,
não posso falar,
doença não deixa,
me deixa! eu digo,
e nada.
As palavras são como a vida
inteira,
centelhas de medo e horror...
as falas são concluídas com problemas,
como posso viver?
como posso eu viver,
sem fazer aquilo que fui feito para?
como posso eu seguir em frente,
com os pés amarrados nas costas,
tendo que me arrastar através da ignorância,
coisa triste é o calar,
sempre me falam isso,
entendem eles o que passo?
não.
Claro que não,
mas quem poderia?
eu sou o que sou,
sem as palavras não sei,
com elas me entendo,
sem elas, não sei,
ou sei e não posso dizer.
Quem sou eu afinal?
quem seria se a doença não me
consumisse?
o sangue sai na saliva,
salivada de simples e simplórios
sempres e nem sempres.
Rotina.
Calo-me.
quem me ajuda?
me estenda a mão e faça.
Ou não faça e fale.
Ou não fale e escute.
Mas eu não posso falar.
Quem sou eu afinal?
palavras ao vento,
tremendo de medo de não mais voltar.
Sou Augusto dos Anjos,
sangrento exponencial da alma pútrida,
sentado em um mar de esgoto transitório.
Sou Mário de Andrade,
arrancando árvores,
fragmentando as aves
e valorizando capoeiristas.
Sou Drummond de Andrade,
com seu 'sou confuso' mas sou consagrado,
me entende quem quer e não sou demócrático
sou hermético, porém 'que se dane'.
Sou morto de fome,
fome de intenções,
de ilusões,
de armações perdidas,
do fundo da alma
de canções vazias,
quando as palavras não ousam voar.
Tentar-me-ia delimitar,
mas sou oblíquo cônico,
intenso arredio.
"Que isso, que isso?!
desculpe a franqueza, mas cale-se de uma vez,
pois há horas que parecem anos,
reclama de estar doente e cansado,
mas as palavras fogem de ti e ameaçam a todos
nós.
Diz-se de uma vez, calado
e não pára de falar.
o quê que há?"
"não me leve a mal, é que me expressei mal,
não seja tão mau de não me achar normal...
sou um unânime anônimo.
tenha um bom dia."