índio
os nativos, verdadeiros donos desta terra
são amarrados pelas ideologias
pelo valor do dinheiro
pelo tempo
pela morte
e quem somos nós nisso tudo
senão instrumentos,
cordas,
armas,
os minutos e os dias
somos aquilo que envenena,
que mais uma vez
se engana de ser grande
quando na verdade somos grão de areia.
os nativos, verdadeiros caçadores
matam aquilo que comem
sustentam
assimilam a perda
fazem orações pelos que se vão
enquanto nós somos a perda,
porque dela nada tiramos
não nos amamos,
não enxergamos,
não somos nada.
somos o vento que passa empoeirado
carregamos conosco as poesias,
as boas frases
as boas comidas e bebidas
enquanto ratos
somos ladrões de nós mesmos
e de outros
chegamos e sem culpa
nos deleitamos na terra usurpada
e sem caminho
nos estabelecemos no véu da ganância
e sobra pro resto
o resto.
quando nos cansamos,
vamos,
saímos,
rindo do tempo perdido
mas quem são eles,
senão os mestres da própria verdade,
que procuram nas garrafas as respostas,
que procuram nas tristezas
algumas coisas que nós também temos
somos tristes,
somos deprimidos
mas procuramos nossa perdição.
os nativos, donos legítimos do teu teto
do teu chão,
dos processos,
esses não tem um descanso,
pois morrem várias vezes
e não só uma,
não tem paz,
obrigados a usarem bermudas,
camisetas,
esconder o que pero vaz chamou de vergonhas
ora,
e nós o que somos,
senão envergonhados hoje do que nem vivemos,
indignados e indignos
escrevendo versos para se salvar?
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