terça-feira, 24 de outubro de 2017

fausto

I
se hospedava em motéis baratos
na esperança de ser convidado aos quartos mais animados
porque não sabia como amar.

II
certa vez havia se esquecido de pagar a conta
e no apagão,
percebeu que já vivia sem luz há muito tempo

III
viu seu pai se levantar do sofá com dificuldade
assim, se deprimiu com a falta de força dos próprios joelhos
e decidiu comprar mais leite.

IV
no primeiro copo de cerveja vomitou.
olhou em volta, não tinha ninguém,
pediu outro copo, envergonhado e desgraçado dos próprios vícios.

V
foi ao médico
e prontamente se convenceu
que o doente era ele.

VI
olhou a mulher no ônibus,
riu-se de sentimentos primitivos,
voltou a dormir e sonhar com a mulher do ônibus.

VII
o número da sorte era 27,
como já havia passado dessa idade
atribuiu o câncer à numerologia

VIII
contemplem o nascimento do meu primogênito
e a morte de minha mulher.
(não sei nem ligar a máquina de lavar)

IX
começo a buscar meus óculos tateando ao redor,
lembro que estão nos meus olhos
e choro pela cegueira e velhice.

X
nem tudo era tristeza.
no segundo verso me calo,

no terceiro, tanta beleza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário