sábado, 29 de outubro de 2011

santificados sejam os dias de tédio e aborrecimentos,
mas esses se quedam num passado presente.
a vida não é mais a mesma de antes,
porque estás comigo,
longa data,
e assim posso dormir em paz.

domingo, 23 de outubro de 2011

recortes

um belo dia resolvi mudar,
deixar pra trás coisas pequenas,
mesquinharias, marias,
nomes próprios.
me peguei olhando o espelho,
com medo da velhice,
fugindo dela,
de mim mesmo,
como se tivesse algo em que segurar.
como se em mim fosse brotar algo que valha a pena,
que não eu mesmo.
me sinto fora de mim,
como um recorte de jornal,
uma notícia antiga,
uma notória viagem sem volta.

um belo dia resolvi mudar.
resolvi criar,
deixar de sonhar e realizar,
deixar-me amar e talvez também ser,
apesar de nunca dormido tanto,
quando acordei eu era o mesmo,
só que outro.

eu agora penso em ser alguém desfigurado,
aceitando tudo do meu eu sem máscara.

sem horrorizar ninguém.

sábado, 22 de outubro de 2011

disciplina

tanto pra fazer,
sufoco!
nada pra fazer,
alívio!
entre um e outro,
linhas se desenham,
que não importa como,
a gente insiste em cruzar.

não importa o que aconteça,
tudo sempre vai bem,
quando ninguém sabe o dia de amanhã,
mas quando todos sabem dos apuros,
e tem a chave mestra para sair dessa situação,
as portas estão trancadas,
não pelo corpo,
pela mente.
a mente que mente,
nem sente o que tem,
mesmo que invente alguma dor também,
quem se diz capaz de realizar?

tente.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

o que o escuro carrega

é tarde da noite,
sonhos, rostos, cores,
tudo some.
nos escondemos por entre os escombros,
com os escrúpulos assombrados por medos passados,
estamos passados, velhos por dentro,
dramáticos,
sádicos.
não sabemos ao certo o que acontece à noite,
quando cai, já caímos,
vimos passar o dia,
cansamo-nos,
dia inteiro,
noite inteira essa melancolia.
dúvida.
é na noite que se revelam os livros abertos,
as vidas retrógradas e opiniões diversas,
é a noite que andamos às pressas,
sem saber o que espreita,
sem saber endireitar o mundo,
segurando o que temos de valor.
e o amor?
esse só não existe de noite, diriam os amantes,
e os bem casados, a rotina veem a porta bater,
filhos, ter, sem querer
querer sem ter,
não ser mais sem viver,
por eles, por todos eles.
a luz elétrica se apaga
e nos desesperamos.
lá se foi uma luz de preocupações,
sem televisão, sem eletrodomésticos,
de repente sem vida.
a noite é uma coisa contínua,
incentiva e incita a morte,
mas nem sempre essa se faz cumprir,
temos que parar de agir atrapalhados,
no escuro, tateando tudo,
quebrando as coisas,
devemos ter consciência.

então pára e pensa.
que já é tarde da noite,
sonhos, rostos, cores,
tudo some.

e nós?


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

o velho sábio e o moleque sabido

um velho sábio me ensinou
os mistérios da vida,
curas de feridas,
divinas comédias,
futuros e passados,
amargos e doces,
duráveis e breves,
pausadas e continuadas,
terrenos e céus azuis.

o velho também me disse
que tudo em mim valia a pena,
tudo em cada um era um pouco de mim.
eu mesmo é claro, não me entendia assim,
dormia e acordava como todo mundo,
comia melado e me sujava todo,
tinha podres e tristezas que só vendo!
mas ele disse que não importava,
que eu era amado por quem não sabia,
a vida eterna eu então contemplaria
e me veria acima de todos os outros.

eu perguntei ao sábio
sobre o meu futuro,
sendo tão especial, eterno,
quem seria o meu eu moderno,
e se o que faria era salvar a todos...

ele disse, seu destino é negro,
estás fadado ao esquecimento,
pois a tua vida não é mais só tua,
e o que sobra a noite me leva.

fiquei sem entender nada,
e resolvi só viver a vida,
que mesmo que já perdida,
sabia eu o significado.

coloco um ponto aqui,
uma vírgula ali,
e sei muito bem ser imortalizado.

atráves de minhas fragilidades,
conto as idades da terra,
e o velho sábio se torna cada vez mais velho,
e menos sábio.
e eu vou crescendo e envelhecendo,
finalmente entendendo meu papel na terra.

subjetivar as intelectualidades,
e intelectualizar os infinitivos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

bicho papão, uma, duas, três metáforas desarrumadas

num quarto escuro, uma luz entrava,
não sei se eu que dormia ou alguém chegava,
em meus devaneios e sonhos sem fim,
não é que uma luz ainda acende por mim!
e morto de sono, ainda acordado,
alguém abre a porta e eu assustado, me escondo.
atrás de um travesseiro, debaixo das cobertas,
até o tal ir embora, ou então me levar,
não posso nem cair em desespero.

é assim que eu levo a minha vida,
ora dormindo, ora acordado,
hora dessas espantando meus demônios
com barulho de televisão ligada.

quem foi criança, sabe o que digo,
e compartilha de minhas crenças.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

corte de cabelo

chego no cabeleireiro e me sento a esperar,
lendo o jornal, reclamando do tempo,
me preparando para encarar a tesoura.

passa um tempo, meia hora,
já estamos rindo e brincando naquela casa de vila,
nos fundos, pra ter o pão de amanhã,
dona Carmem nos dá um tratamento de beleza especial:
xampu, barba, cabelo e bigode,
conversa, cervejinha e linguicinha frita,
logo tudo vira um grande churrasco,
de cabelo cortado eu fico confiante,
e logo cheio de saias bem curtas em volta.

tudo é alegria,
e as vezes esquecemos de como é bom
dar valor a trivialidades miseráveis.
mentira

contei uma,
duas,
três,
quatro,
depois cinco,
depois seis.

uma virou verdade,
de tão ouvida que foi (como minha mãe dizia),
outra foi mandada por correio lá pra longe,
e afetou até muitas vidas, lá no Mato Grosso,
a terceira foi rapidinha no emprego, que antes era meu,
agora é de algum almofadinha, capacho do patrão,
a quarta foi por telefone e decretou o fim,
o fim da arrumação bagunçada que era minha relação.
a quinta contei de ruim que era,
não dar dinheiro aos pivetes,
não pagar estacionamento,
não dar dinheiro.
a última foi a mulher que amava,
dizendo que não.

quando a verdade era sim,
mas disso eu não sabia nada.
drama

algumas vezes deixamos nossa mente voar,
procurando artifícios, uma lembrança,
um desapego que seja, algo forte o bastante pra mandar pra longe a tristeza imensa,
da confusão das horas,
do tormento de velhos relacionamentos desgastados.

outras vezes, passivamente, esperamos,
por ilusões de outrora,
seguimentos de reta, tortos,
argumentos sólidos,
teses,
rezas,
mas de nada adianta.

temos que começar por nós mesmos
o processo de reconstrução.
ou não?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

protesto

ATENÇÃO, AMIGOS,
É UM ABSURDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A HUMANIDADE!
TEMOS QUE PROTEGER AS NOSSAS CRIANÇAS,
ASSEGURAR OS DIREITOS DE NOSSOS ANIMAIS,
A COMUNIDADE INDÍGENA UNIDA
E CONTRA O RACISMO E HOMOFOBIA!

comecem por acabar com a mediocridade,
tão presente em lares brasileiros,
olhem para seus umbigos, nos espelhos
e dentro de suas almas nos sonhos,
façam de conta que ninguém mais existe.
como todos vem fazendo desde o início dos tempos.

desligue o megafone,
desmonte as multidões,
desarme-se,
pregue a desunião,
deixe de lado causas sociais e políticas.

leia um livro.
seja um humano melhor,
e não esconda as respostas de quem está sentado ao seu lado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

não culpe a vida pelos desencontros.
somos nós que não nos mostramos prontos
aos designios do destino,
e percebemos que ao fechar e abrir dos olhos,
lá se foi mais um dia.