quinta-feira, 12 de julho de 2012

ambientes e interiores

da janela da sala vejo romances,
nuances, cores,
amores e desamores,
morenas, sabores,
mortes e vidas sem vida
passando por debaixo da janela.
vejo cida, maria e gilda,
confabulando sobre o preço do pão,
não abrindo mão de seus trocados.

da janela da cozinha vejo e sinto cheiros,
passo fome, como bois inteiros,
depende do dia, depende da tia,
depende de boa vontade.
mendigo uns trocados,
como doces e amargos,
vejo alegria num café quentinho.

da janela do quarto vejo sexo,
sem nexo, intenso, tenso,
rostos quentes, silhuetas,
lunetas espionando,
olhares por todos os lados, cantos,
falo baixinho,
não acordo ninguém
com barulho de descarga.

da janela da alma
abro várias portas,
escancaro-me,
solto as maçanetas do pudor.
chaveiro sou,
entrando sem pedir,
saindo sem saber,
me desgraço em ter tantas chaves
e não saber em que porta bater.

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