quinta-feira, 9 de novembro de 2017

recuperação

tenho pensado muito em não morrer.
eu tenho muito o que realizar,
tive um ataque de pânico numa livraria ontem
muitos livros pra ler
vai que eu morro amanhã
chego no umbral
a alma imunda
e ainda ignorante!
os anjos todos literários,
falando galego,
trovas entoando
e eu ali,
sem entender Gregório de Mattos
sem entender porra nenhuma de romantismo,
não sabia direito quem era Margaret Thatcher
não tinha visto o último filme do costa gavras
gravas
graves,
isso é grave, pensei eu em desespero
será que nas casas de cura
tem explicador?
será que eu serei ensinado pelos meus antepassados
a não parecer ultrapassado?

tenho pensado muito em não morrer
imagina só,
eu com um monte de coisa pra fazer
artes,
musica,
vendaval de informações
que reuni dos mecanismos de busca da internet,
quando eu chegar lá no nirvana
pegar meu certificado de Buda,
os gordinhos de olhinho puxado vão comentar que eu não aprendi as funções quadráticas,
que repeti várias vezes o colégio por causa da maconha,
que esqueço aniversários o tempo todo
que não fui tão engraçado assim.
tenho ataques de ansiedade dentro de elevadores
e fora deles,
pra cima e pra baixo
não tenho paciência
não sei o que fazer.

seco o suor do rosto nesse momento funesto,
e guardo o guardanapo.
quem sabe vale alguma coisa
o suor moderno do homem analítico
neurótico

não sabemos nada.


por isso tenho pensado tanto em não morrer.

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