fiz uma cópia de mim,
foi assim, sem mais nem menos,
não comia, não dormia,
era eu,
mas não sonhava
era cheio de manias,
mas não tinha esperança,
era minha companhia,
uma alma de criança.
a cópia era frágil e falhada
como as horas
os dias,
o tempo todo eu contava nos dedos
o tempo de voltar pra cópia,
me ver gêmeo sem ser,
me ver monstro,
viver.
fiz uma cópia de mim,
e outra
e mais outra
e as cópias foram por aí,
sendo eu e tantos outros,
criando amores,
inimigos,
subindo ladeiras e morros
tendo sentimentos,
evoluindo.
de repente tinha um milhão de mim
e era um tal de você fez isso
fez aquilo,
fez aquilo outro
não era eu, respondia encabulado
era uma cópia,
não tenho culpa,
como os outros veem a mim mesmo quando não estou.
ninguém entendia.
fui pra cadeia pela cópia,
fui currado pela cópía
transei e fui transado pela cópia
e até hoje não entendi o porque
quanto mais me copiava
mais triste,
mas livre,
mais desgraçado.
um dia copiei o meu amor,
não era a mesma coisa,
era perfeito,
era tão guardado a sete chaves
e tão cheio de mim
que tinha todas as cópias numa só
me apunhalou
e eu morri.