segunda-feira, 1 de junho de 2015

espírito

está terminantemente proibido morrer

os ventos que sopram suaves,
as praias brancas,
o tempo corre devagar,
as virgens,
os virgens,
a pureza,
nada mais será usufruído.

está proibido morrer.

e quem ousar, desobedeça,
faça e aconteça,
é o calor do momento,
a responsabilidade,
a tristeza,
sentimentos tão comuns aos vivos
que lhe absolverão.

está proibido morrer.

sinto-me chamado pelos anjos
ou quem quer que seja.
o cheiro das flores,
os medos,
as febres,
os desejos,
se vão como a primeira luz da manhã.
a poesia diz que não posso ir,
não posso percorrer os caminhos para meus antepassados,
não posso sorrir diante deles,
aprender com eles.

está proibido morrer.

vivo por um fio,
a agonia,
o verso,
a maestria da escrita,
as tribos esquecidas,
as minhas gravatas.
quanto tempo gritei por socorro,
quando foi que me atentei à vida?
agora me seguro a ela
e tremo,
estão todos em volta,
adormeço
não,
luto contra o sono,
seria o último
e com um raio de sol,
abro os olhos.
estão todos gargalhando
"é alguma piada, com certeza"
não, dizia meu bisavô que jamais conhecera.

está proibido morrer.

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