sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ela

era uma vez uma coisa
uma metáfora a toa,
foi espremida
até virar alguma,
específica.
cresceu
me engoliu
eu não posso evitar.
é meu
minha coisa,
meu sonho
minha perseverança.

a coisa é um amor inexplicável
amargo e ao mesmo tempo tão
inacessível
que coisa é essa que rouba meu sono?
me faz entender que o fim é mais adiante,
não aqui onde me equilibro olhando pra baixo,
que coisa é essa que num beijo entende os segredos do mundo
e entende os meus segredos
que também são do mundo
e meu coração
(tão comido pelas poucas experiências)

era uma vez uma coisa
que de tão grande me matou e tomou meu lugar
não só na terra,
pisando firme
mas nas fotos
nas memórias
a coisa era eu
ou era sua?

lembra?
uma metáfora a toa
que virou alguma
uma metáfora boba
que inundou o tempo
com toda beleza.
vida

da janela eu seguro
vejo a fumaça
o vento
o tempo todo
os gritos e as pessoas
perecíveis
verossímil
crível
a verdade.

da janela eu sozinho
me sinto tão perdido
que não vejo o desespero
meu ou de outros
o mel do gosto
o trem
o desgosto
as montanhas
a praia
nada

na janela debruço
é como um filme
não saio de casa,
mas me pego a olhar
as películas
as fotografias vivas
o sofrimento
atento aos atentados
aos acontecimentos
e choro
de dentro pra fora.

a janela é o ponto final.