domingo, 22 de junho de 2014

curtinhas

I
não penso em pornografias,
apenas em você, sem roupa,
rindo,
gargalhando em minha cama.
sem problemas,
sem sistemas,
sem lençóis,
a pobreza enche o coração de amor
e a tristeza em teus braços não me dói

II
meio amargurado esqueço
na amargura me conheço,
cresço e me mereço,
desço,
não pereço.

III
a tinta pinta o dia
todo o dia a tinta pinta
e de tinta sujo o dia
e o dia suja a vida.

IV
sento na poltrona,
penso na vida,
penso em morte,
penso em tudo.
boa sorte

V
pensei em escrever,
sei lá, dar ao meu coração morada
que veda ele que só, vive em qualquer esquina
em qualquer canto,
em qualquer peito,
em qualquer clima,
vive com frio.
quem é você que faz as malas do meu querer bem?

VI
as realidades são engraçadas,
plastificadas sem nada dizer.
corre, a vida vivida
me dá sono,
me deixa morrer.
queria me ver em novelas
sem pé nem cabeça,
sem notar as câmeras,
sobreviver.
viajar pelo mundo beijando atrizes
e reclamando do preço do pão e de maus versos também.
aos cafajestes

sinto falta dos poemas salientes,
falar de sexo é tabu,
uma palavra pode matar meus filhos
e que vivam as borboletas,
mensageiras da verdade,
que portam as calamidades em cima das asas,
mas uma transa bem dada,
um lençol sujo de sêmem
é imoral?
essa é a violência de que falavam meus avós
e com um tiro morre mais um pobre,
saiu no telejornal.

aparece uma boceta em um poema
querem apedrejar o tal?

sinto falta das saliências,
era mais simples o tempo
e ninguém via sangue (só naqueles dias)
descrevendo o amor minúsculo

todo coração que bate
deve servir de consolo aos 
apaixonados inveterados.
estes sim,
olham os solteiros com desprezo 
e riem-se deles,
a monogamia virou doença
e os doentes são contentes
de si mesmos.
e os solteiros tão saudáveis
choram num simples abraço

quinta-feira, 17 de abril de 2014

nosso tempo

era um impedimento que eu tinha,
uma alegria,
uma vida,
o tempo era curto
mas eu via as horas,
brincava com elas,
embaralhava,
tramava os acontecimentos
o tempo todo.

palavra engraçada,
quanto mais se tem, mais se quer,
quando mais se ter,
se tiver.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

história

era uma vila de pessoas pobres,
tinha josés, marias, mortes,
tinha peixes, piranhas, fome,
tinha descaso, agonia, sono.

era uma vila de pessoas pobres,
tinha orgulho, bondade, sonho,
tinha valores, amores, tronos,
tinha poderes, dizeres, saberes,
tinha donos.

era uma vila de pessoas,
tinha famílias, riquezas, outro,
tinha fraqueza, doenças, soros,
tinha verdade, mentiras, abraços,
tinha ladeiras, escadas, morros.

era uma vila,
antes de gente, tinha gente muita,
morreram todos não se sabe como,
vieram todos com pesadas botas,
espelhos, provocando o medo,
destruindo a sorte,
trazendo o desconhecido,
a peste, a gripe,
trazendo as vestes,
a religião.

antes de tudo tinha deus, alguém
brincalhão que só nos deu,
nos deu tudo,
numa música, num passe de mágica.
ao mesmo tempo o céu explodia,
dele caía girafas, garrafas vazias,
ídolos, planetas,
o dia,
a noite deus nos deu,
fria,
tudo frio,
grandes criaturas,
vento,
folhas balançando,
filhas,
vento,
grandes monumentos.

e tudo isso era pensamento,
e real,
ao mesmo tempo.

sábado, 15 de março de 2014

cisma

das palavras mais doces de pronunciar,
seu nome é a mais bonita,
não tem acento,
não tem nome,
não tem vento,
tem só a sua vida e tudo nela contida.
minha vida, de tanto falar teu nome,
ficou caduca, metida, maluca,
agora só serve teu verbo,
teu predicado provocativo,
teus adjetivos e lábios rosados.