fases (da vida)
meus dedos marcados
me marcam,
ferido me vejo,
poético ricocheteio pelo quarto,
uma borboleta enjaulada procurando a saída,
meus dedos sangrando
escrevem,
meus pés caminhando me servem,
ou me impedem de voltar atrás,
na poesia me acho demais,
é um vício me metalinguisticar,
me despir e me olhar,
um espelho sem fim,
um túnel de mim,
e a rima escorre pelo buraco,
me escolhe e eu me refaço,
refeito me embaraço,
fodo mulheres e me esvaio,
em sangue, sêmem e suor.
numa segunda fase
me levanto,
canto no chuveiro santo,
me desce o pranto de vida vazia,
entre o choro de raiva e a melancia,
que me mata a fome e a sede,
vejo como sou ignorante.
numa terceira fase sou um deus grego,
declamando clássicos, bêbado, anormal,
sempre fui o pior dos meus mundos,
de braços e pernas arqueados, quando não abertos,
a receber as projeções à minha volta,
me solta! eu grito, essa mediocridade,
eu aqui nessa cidade,
não sei nem mais quem eu sou...
mas numa quarta fase eu termino tudo,
fico quase mudo,
ouço alguém entrando.
é a mulher procurando defeito,
no disparo feito,
o vermelho do chão.
e os anjos tocam as cornetas,
eu entro no céu,
mas com o cu na mão.
ninguém gosta de morrer em vão.